São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 1994
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Cresce a pressão contra candidatura Dirceu

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A ala do PT que defende a retirada da candidatura do deputado José Dirceu ao governo paulista não pretende recuar. O imbróglio já se transformou na polêmica de plantão da crise petista. Ontem, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, informou que está articulando um manifesto de prefeitos do partido a favor de uma acordo em que o PT abriria mão de algumas candidaturas estaduais em troca do apoio do PSDB a Lula na eleição presidencial.
"Esta posição estava represada no partido e devemos negociar sem pressupostos de candidaturas", disse Genro. O prefeito, no entanto, reconhece que não vê disposição no PSDB para qualquer acordo que exclua o lançamento de uma candidatura própria ao Planalto. "Mas devemos deixar claro para a sociedade que tentamos a aliança', disse.
No início da semana, Genro e Dirceu travaram uma discussão áspera por fax. Dirceu sugeriu ao prefeito que ele transferisse seu domicílio eleitoral para São Paulo, para se credenciar à discussão. Genro, em tom duro também, respondeu que aquela não era uma visão de um dirigente de expressão nacional como Dirceu.
O caso ganhou proporção com a publicação, na edição de ontem da Folha, de um artigo assinado pelo ex-deputado petista Plínio de Arruda Sampaio e pelo deputado Roberto Freire (PPS-PE), que defende o apoio a Mário Covas (PSDB) na disputa pelo governo paulista como forma de criar uma "tensão"no PSDB e outros partidos em torno da possibilidade de cacifar Lula ainda no primeiro turno.
Dirceu ficou furioso. "Desafio o Plínio a defender essa proposta nos encontros municipais do PT e ver se ele tem mais de 1% de apoio', afirmou o deputado. "O Plínio não tem lastro social no PT e na base social do partido para propor uma coisa dessa", acrescentou. Os encontros municipais do PT paulista, nos dias 12 e 13 próximos, escolherão os delegados à convenção estadual, que deve oficializar a candidatura Dirceu.
Plínio, candidato derrotado ao governo paulista em 90 e ligado à Igreja, respondeu que defenderá sua idéia no partido. "Tenho a impressão que a maioria do partido e dos que votam no PT têm a mesma posição", acha. Sobre a questão "lastro", o ex-deputado afirmou que "em 90 tive 1,6 milhão de votos, o mesmo percentual de lula e Suplicy em suas campanhas para o governo de São Paulo".
Apesar da ofensiva contra Dirceu, é quase impossível a retirada da candidatura. Principalmente porque a imensa maioria do PT não acredita que o PSDB se disponha a apoiar Lula. O próprio Lula declarou ontem que considera "cada vez mais improvável" uma coligação com os tucanos.

Colaborou a Agência Folha, em Fraiburgo

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