São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Redes criam pólo têxtil na Paraíba

ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO BENTO

A fabricação mensal de 400 mil redes de dormir faz do município de São Bento (444 km a noroeste de João Pessoa) o maior pólo da indústria têxtil da Paraíba. Segundo dados da prefeitura, 80% dos 21,5 mil habitantes trabalham na produção de redes em 74 indústrias médias e grandes e em 500 pequenas indústrias.
A renda média familiar é de 2,5 a três salários mínimos por mês. Em geral, o pai e a mãe trabalham nas fábricas, enquanto os filhos ajudam no acabamento final. Cada um ganha entre CR$ 10.000 e CR$ 15 mil por semana.
"Não há problema de desemprego em São Bento", diz o prefeito Milton Lúcio Filho (PFL), 38. O prefeito e os próprios fabricantes de redes de São Bento consideram o município uma "ilha" de prosperidade no sertão da Paraíba, principalmente nos períodos de seca.
Em São Bento, a seca não é problema, já que as redes são fabricadas durante todo o ano. O pico da produção acontece durante a seca, porque não há chuvas para atrapalhar a secagem dos fios ao sol.
Os sinais de que a produção de redes impulsionou o desenvolvimento de São Bento estão na própria paisagem da cidade. Quase não há casas de taipa, nem qualquer formação de favelas, comuns em Cabedelo (18 km ao norte de João Pessoa), cidade paraibana do mesmo porte de São Bento.
A ampliação da rede telefônica de 500 terminais instalados para 1.000 e o aumento do consumo de energia elétrica são apontados pelo prefeito como sintomas do desenvolvimento. Na microrregião de Catolé do Rocha, onde está situada, São Bento consome mais energia do que a cidade de Catolé, a maior da região, com cerca de 5.000 habitantes a mais.
O consumo de energia em São Bento foi de 7.000 a 10.000 megawatts/hora no ano passado, contra 3.500 a 7.000 de Catolé do Rocha. Enquanto Catolé do Rocha tem apenas uma agência bancária, São Bento tem duas (Bradesco e Banco do Brasil). A cidade é quase toda calçada e saneada.
O ex-prefeito e fabricante de fios de algodão (matéria-prima para a fabricação de redes) Ademar Pereira Diniz, 32, estima que mais de US$ 2 milhões circulam mensalmente na economia de São Bento por causa das redes. Segundo ele, somente em janeiro os fabricantes destinaram CR$ 600 milhões para a compra de fios de algodão. Para Diniz, se toda a população vivesse exclusivamente das redes, cada trabalhador estaria ganhando em média entre US$ 90 a US$ 100, bem acima do mínimo de US$ 65 cogitado pelo governo.
Os Estados que mais compram as redes de São Bento são Amazonas, Maranhão, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. As redes são vendidas, em média, a CR$ 6.000. As mais baratas custam entre CR$ 2.000 e CR$ 6.000. As mais caras variam entre CR$ 7.000 e CR$ 20.000. Todos os meses, 120 caminhões deixam São Bento carregados de redes. Os pequenos caminhões levam entre 2.000 e 3.000 unidades e 15 vendedores. Os grandes caminhões levam entre 10.000 e 15.000 unidades.
Todas as segundas-feiras acontece a Feira da Rede em São Bento. Os pequenos e médios vendedores levam parte da produção da semana para vender na feira, que reúne centenas de pessoas.

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