São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Reis Velloso alerta para perigo de recessão

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mal saído de uma recessão, o Brasil pode estar na iminência de voltar a andar para trás. A possibilidade de o país mergulhar outra vez num ciclo recessivo será definida pela maneira com que se fizer a transação para uma nova moeda. O alerta é de João Paulo dos Reis Velloso, ministro do Planejamento dos governos Medici e Geisel.
Reis Velloso, 62, acha que o componente recessivo do plano de Fernando Henrique Cardoso emergirá na inflação da nova moeda. "Quanto maior for a inflação residual, maior será o perigo de recessão", diz o economista, hoje à frente do Instituto Nacional de Altos Estudos, um "think-tank" voltado para problemas macroeconômicos.
Para evitar esse risco, Reis Velloso acredita que a equipe tenha que obedecer ao máximo a regra da neutralidade, impedindo transferência de renda entre setores. "Caso contrário, teríamos uma pressão inflacionária sobre a nova moeda."
Reis Velloso não está, no entanto, pessimista. Vê uma "chance razoável de êxito" por acreditar que a equipe esteja no caminho certo ao ter optado pela média dos últimos meses para fazer a conversão dos salários. Quanto aos preços, recomenda um "monitoramento ativo" sobre setores oligopolizados para conter abusos.
O risco recessivo da inflação na nova moeda será potencializado pela inflexível política monetária que Reis Velloso prevê para a nova fase do plano. Para ele, vai-se viver a expansão mais rígida dos últimos 60 anos. "Será como uma volta ao padrão-ouro", compara, numa referência ao sistema monetário que só permitia a emissão de moeda que tivesse equivalente no metal.
No caso, a expansão monetária será limitada pelo dólar. O governo só emitiria moeda que tivesse lastro nas reservas em dólar. Em termos de rigidez, esse padrão-dólar é similar ao padrão-ouro, que teve seu apogeu depois da Primeira Guerra Mundial e foi aos poucos sendo abandonado.

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