São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Brasil exporta 'esposas dóceis' para Europa

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O Brasil tem um novo produto de exportação: "esposas dóceis". Só de Recife (PE) deixam anualmente o país cerca de 300 mulheres para se aventurarem na Europa. Patrocinadas por turistas estrangeiros, 20% delas não se adaptam ao novo país ou ao companheiro e acabam vítimas de maus-tratos e violência.
As informações são da Casa de Passagem, entidade que atua no apoio a cerca de 5.000 meninas e adolescentes carentes da cidade. Segundo levantamento da entidade, 80% das garotas alegam motivos econômicos ao aceitarem viajar para um local que nunca viram, em companhia de alguém que mal conhecem.
Segundo a presidente da Casa de Passagem, Ana Vasconcelos, o resultado é que a maioria volta ao Brasil na esperança de outras oportunidades de viagem. Metade das adolescentes tem como destino a Alemanha.
A idade das garotas varia entre 15 e 20 anos, enquanto a de seus companheiros, geralmente operários em seus países de origem, gira em torno dos 40. As abordagens em busca de companhia começam ainda no aeroporto e continuam nas praias, bares e boates da cidade.
As meninas viajam, na maioria das vezes, como estudantes de línguas, matriculadas em cursos regulares pelos próprios companheiros. O visto de turista lhes garante três meses no exterior. Quem não se casa ou não consegue prorrogar a permanência, passa a viver na clandestinidade ou volta para o Brasil.
No exterior, a maior queixa das garotas, segundo Ana Vasconcelos, é o isolamento compulsório a que são submetidas. Em depoimentos colhidos pela Casa de Passagem, algumas dizem ter ficado trancadas nas casas. Outras denunciam espancamentos pelo próprio companheiro.
Para acompanhar a trajetória dessas adolescentes no exterior, a entidade mantém contatos com oito organizações estrangeiras, cujos endereços e telefones são fornecidos às garotas. Segundo Ana, "situações críticas são relatadas para que providências sejam tomadas".
Em Recife, o controle sobre a movimentação das meninas é feito através de educadoras treinadas pela Casa de Passagem e que atuam em áreas de prostituição. Em reuniões quinzenais, elas são comunicadas sobre quem vai viajar ou está voltando.

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