São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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A lógica econômica do plano

DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano FHC será o primeiro programa de estabilização sem controle de preços e de salários, disse à Folha um importante membro da equipe econômica. Segundo esse economista não existe a menor possibilidade de se colocar preços na média. É tecnicamente impossível e irrelavante do ponto de vista de controle. O que segura preço, disse, é o mercado. Quem subir demais, não vende.
Assim, a Medida Provisória de lançamento do programa poderá, no máximo, fazer uma referência geral à questão dos preços, indicando que o governo vai coibir abusos, especialmente dos oligopólios. E a forma de coibir esses abusos será, em primeiro lugar, facilitar a importação de produtos concorrentes. Quando não for possível a importação, se aplicará legislação anti-oligopólio.
Segundo o membro da equipe econômica, só se pode colocar um preço na média quando há um fluxo de pagamentos com cláusula de reajuste. Caso dos aluguéis ou dos salários, que têm picos e vales. Mas como encontrar a média do preço do feijão vendido à vista?
Descartada a possibilidade de se colocar preços na média em URV, restaria a possibilidade de se impor controles de preços, o velho congelamento. Mas, no entendimento da equipe econômica, seria só arrumar confusão inútil. Todos os demais planos já mostraram que não funciona e só cria desgaste para o governo.
Além disso, disse o economista, os salários não estarão congelados e poderão ser aumentados a qualquer momento depois de convertidos em URV pela média dos últimos quatro meses. E se os salários não estão congelados, não há argumento para se congelar preços.
Essa é a posição da equipe econômica, que acredita estar preparada para, após a batalha de conceber o plano, entrar na guerra política para sua aprovação. Com esses argumentos ela julga estar armada para convencer os parlamentares de que os salários, colocados na média real, mantendo o poder aquisitivo, terão a proteção de estarem indexados a uma URV que é atrelada ao dólar. É como se os salários passassem a ser indexados ao dólar, variando todo mês em cruzeiros reais, igual ao que acontece com a inflação.
Se esses argumentos sensibilizarão os congressistas é o que se passa a acompanhar. A atenção, paralelamente ao início da vida prática da URV, se volta para o embate entre argumentos econômicos e políticos neste ano eleitoral, quando o sucesso do plano é visto por muitos como sinônimo de fortalecimento de uma candidatura de FHC.

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