São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Bancos começam adaptação já amanhã

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro começa a ganhar a feição da economia indexada em URV (Unidade Real de Valor) já na abertura do expediente bancário, amanhã. Os bancos vão conduzir a passagem da economia até a mudança do padrão monetário do país eliminando os CDBs pós-fixados indexados à TR com prazo de 90 dias e, também, os que acompanham a variação do IGP-M, estes com vencimento em um ano. O estoque desses papéis soma US$ 5,4 bilhões e a intenção da maioria das instituições é a de não mais renová-los.
Mais para a frente, à medida que se aproximar o momento da troca de padrão monetário, o mercado vai brecar os negócios com CDBs prefixados de 30 dias, o produto mais procurado pelos investidores e que carrega um patrimônio estimado em US$ 30 bilhões pela Andima (Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto). Os motivos desse posicionamento foram minuciosamente discutidos em reuniões na semana passada entre os dirigentes do mercado financeiro. Eles chegaram ao consenso de que não há mais sentido em oferecer essas alternativas de investimento nessa fase de transição.
"O mercado vai se ajustar", prevê Murilo Braga, presidente da Andima. O Banco Central promete que, um mês antes da criação da nova moeda, haverá a divulgação das regras de funcionamento do novo mercado financeiro. "O BC deve nos avisar com antecedência quando devemos parar com a captação dos CDBs prefixados para evitar problemas de cálculo do seu rendimento", explica Braga.
Segundo Paulo Alberto Schibuolla, diretor geral adjunto do Banco Francês e Brasileiro, ninguém mais vai querer ser devedor em algum indexador que reflita a inflação passada. "Isso vale para banco, empresa ou pessoa física", afirma. "Como é que eu vou captar dinheiro vendendo um CDB e depois não encontrar quem queira esse dinheiro emprestado? Essa conta não soma."
O pessoal do mercado financeiro imagina que o governo fará a conversão de moeda em algum lugar do tempo entre 15 de abril –quando o dólar comercial deverá estar cotado a CR$ 999,00 para compra e CR$ 1.000,00 para venda– e 1º de junho. Se um banco vender um CDB prefixado em, digamos, 25 de março, com taxa de 40% em 30 dias, e a nova moeda for gestada pelo governo em 15 de abril, terá de honrar a promessa firmada, mas o papel terá percorrido esse período dividindo-se entre 20 dias de inflação alta e 10 dias de inflação bem mais baixa.
"Há enormes dúvidas também em relação à TR", afirma Luiz Eduardo Assis, diretor de investimentos do Citibank. "Como será sua formação? Não dá para emitir um CDB sem conhecer esses detalhes."
Os compradores de NTNs indexadas à variação do IGP-M com prazo de vencimento em um ano -fundos de investimento, bancos e seguradoras, entre outros- estão consultando advogados para se protegerem contra qualquer possibilidade da aplicação de um vetor ou tablita que represente prejuízo provocado na transição para a nova moeda.

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