São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Fator pode tratar mal de Parkinson
JOSÉ REIS
Células gliais são elementos que constituem a glia, tecido que exerce funções de sustentação e outras no sistema nervoso. Já se sabia que essas células secretam dopamina, neurotransmissor (substância que estabelece a comunicação química entre células) cuja deficiência, decorrente de lesões na chamada substância negra, contribui para a instalação da doença de Parkinson. Estimulado por esse fato, Collins decidiu estudar o assunto a fundo, em culturas de neurônios de ratos, de linhagem altamente produtora de dopamina. Após seis meses de trabalho, ele conseguiu purificar a proteína do fator e, enveredando pela genética, isolar o gene humano correspondente à proteína. Inseriu esse gene em bactérias e obteve proliferação da proteína em grande escala. O GDNF manteve os neurônios vivos por muito tempo, além de manifestar a elevada especificidade pela dopamina. Não se conhece ainda o mecanismo de ação do novo fator. Outra peculiaridade observada foi a grande atividade, atuando o fator em doses mínimas. O potencial do GDNF no tratamento do mal de Parkinson é muito elevado, se for possível aproveitá-lo adequadamente. Mas no momento ainda é cedo para falar em aplicações clínicas. Os tratamentos atuais da doença têm em mira aumentar farmacologicamente a quantidade de dopamina na região afetada, porém não logram impedir a progressiva degeneração dos neurônios. Por isso as drogas comumente em uso perdem a eficácia com o tempo. Ultimamente se tem recorrido, em casos raros, e com resultados modestos, ao implante cerebral de neurônios de fetos abortados. São várias as dúvidas que se opõem à aplicação clínica do fator. Em primeiro lugar, as experiências até aqui realizadas têm sido feitas con neurônios de rato e há grande diferença entre esse animal e os seres humanos. Alguns pesquisadores lembram que a ação do fator não foi ainda testada em todos os tipos de neurônios que existem na região cerebral implicada na doença de Parkinson (mesencéfalo), o que poderá provocar uma grande confusão de efeitos. Outra dificuldade lembrada é ser a molécula do GDNF incapaz, por seu tamanho, de atravessar a chamada barreira hematoencefálica, que impede a passagem de muitas substâncias da circulação geral para a cerebral. Para contrabalançar esse empecilho, alguns sugerem o uso de moléculas transportadoras especiais, capazes de "iludir" a barreira e levar a reboque o fator. Recente sugestão consiste em abandonar a idéia de trabalhar com moléculas grandes e desenvolver o estudo de moléculas menores, já descobertas, que apresentam semelhança com os fatores de crescimento e poderiam produzir dopamina. Certos pesquisadores têm imaginado introduzir o fator diretamente no cérebro, por meio de sonda permanente (o que já se conseguiu em outras situações), mas esse meio de aplicação apresenta o risco de infecção cerebral. Outros pesquisadores têm proposto implantar neurônios produtores de dopamina (dopaminérgicos) na região afetada no mal de Parkinson. Nota auspiciosa é divulgada por Frank Collins: o uso do fator em animais (roedores e macacos) com sinais semelhantes ao parkinsonismo parece melhorar os sintomas da perturbação neurológica. Texto Anterior: Associação de cientistas quer manter EUA em 1º Próximo Texto: Genes antigos buscam afirmação Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |