São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"É preciso regular as dosagens"

DO "INDEPENDENT ON SUNDAY"

Além do trabalho em seu consultório particular, o dr. Jeremy Coplan é professor assistente de psiquiatria na Universidade Columbia, em Nova York. Ele já conduziu diversas pesquisas sobre síndromes de pânico e distúrbios de ansiedade, focalizando especificamente a serotonina. Aqui ele fala sobre o Prozac.
Pergunta - Existe algum modelo biológico que poderia explicar o efeito do Prozac sobre uma gama tão ampla de distúrbios do humor?
Jeremy Coplan - Na realidade, não. Existem teorias, mas quanto mais ficamos sabendo sobre os sistemas que regulam os estados de ânimo, mais compreendemos o quão assustadoramente complexos eles são. Estes sistemas se ergueram no decorrer de milhões de anos, para lidar com níveis variados de estresse, mas não conhecemos o mecanismo pelo qual eles dão errado.
Pergunta - O Prozac pode impelir as pessoas ao suicídio ou a cometer atos de violência?
Coplan - Estamos aprendendo a tomar muito cuidado com as dosagens. As pessoas que sofrem de ataques de pânico, por exemplo, são extremamente sensíveis ao efeito colateral do estado de inquietação. Se isto acontece, a reação apropriada é reduzir a dosagem. Antes os médicos estavam aumentando a dosagem, e se você faz isso demais, pode levar pessoas ao suícidio.
Pergunta - Já vi casos em que o Prozac ajuda pessoas a passarem por momentos de profunda tristeza. Seriam casos em que se está tratando uma emoção natural, em vez de um distúrbio psiquiátrico?
Coplan - Em altas dosagens, estes medicamentos podem amortecer as reações emocionais normais. Provavelmente é isto que está acontecendo, e o correto seria reduzir a dose. Quando a tristeza normal se transforma em tristeza patológica, muitas vezes existe uma depressão.
Pergunta - Como se diferencia uma emoção ou característica de personalidade indesejada de um distúrbio psiquiátrico?
Coplan - Tudo isto é semântica. As pessoas sofrem. Elas nos procuram porque têm um problema e nós as ajudamos.
Pergunta - Qual a implicação do sucesso dos tratamentos à base de drogas para a terapia verbal tradicional?
Coplan - Várias situações não reagem bem a terapia. Muitos distímicos fazem terapia há anos e não deixam de se sentirem infelizes. Estes medicamentos têm tido êxito notável no sentido de fazer as pessoas se sentirem melhores, mas você precisa ter em mente que medicamentos não são cura. A abordagem mais eficaz parece ser uma combinação de medicamentos e terapia.
Pergunta - Como o sr. explica a reação pouco entusiástica que Prozac tem tido na Grã-Bretanha?
Coplan - Deve ser uma coisa cultural. Os britânicos têm tendência maior a aguentarem firmes, tomando alguns gins com tônica para ajudar ... O pessimismo parece ser parte integrante da vida na Grã-Bretanha.

Texto Anterior: Uma nova pílula no 'american way of life'
Próximo Texto: Especialistas discutem o uso da nova droga
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.