São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994 |
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'Xerife' de direitos humanos quer verba
FERNANDA GODOY
Mas ele vai precisar também de mais do que seu atual orçamento bianual de US$ 1,4 milhão e promete brigar por isso. O alto comissário diz que pretende apresentar um plano de trabalho –e de recursos– e exigir dos países que apoiaram a criação do alto comissariado para direitos humanos que não o deixem cair no vazio da demagogia e da inoperância. Três dias após a ratificação de sua escolha pela Assembléia-Geral da ONU, Ayala Lasso recebeu a Folha para uma entrevista. A seguir, os principais trechos: Folha - O sr. tem metas específicas sobre o que pretende alcançar durante seus quatro anos de mandato? José Ayala Lasso - Eu já estou preparando um plano de ação que falará em metas de curto, médio e longo prazos. A meta mais importante é fortalecer o que eu chamo de "o espírito de Viena". Durante a Conferência dos Direitos Humanos em Viena, em junho do ano passado, foi possível pela primeira vez chegar a um consenso para atacar o problema dos direitos humanos de uma perspectiva global. Folha - No processo de negociação para a criação do cargo, a figura do alto comissário também perdeu alguns poderes, como por exemplo o de realizar expedições para investigar violações de direitos humanos nos países. Como o sr. vê esse enfraquecimento? Ayala Lasso - Minha percepção é completamente oposta a essa. Eu acho que o consenso obtido entre os 184 países-membros é a mais importante arma, a maior fonte de poder do alto comissário. Essa autoridade moral é mais importante do que qualquer autoridade específica para investigações. Folha - Sua nomeação não foi bem recebida por algumas ONGs (organizações não-governamentais). Como anda o seu relacionamento com elas? Ayala Lasso - Minha política é de cooperação amistosa, de portas abertas. Quanto às críticas: seria pretensioso da minha parte ficar me elogiando, mas seria desrespeitoso acreditar que o secretário-geral da ONU e os 184 países-membros aprovariam alguém que não fosse capacitado. Folha - Alguns governos, como o brasileiro, reclamam que as ONGs só apontam falhas e violações dos direitos humanos e apenas recentemente passaram a incluir em seus relatórios os esforços dos governos para solucionar esses problemas. Qual será o seu papel neste âmbito? Ayala Lasso - O alto comissário não deve apontar culpados ou condenar, mas sim promover os direitos humanos em todos os países. E uma das melhores maneiras de fazer isso é convencer os governos de que respeitar os direitos humanos é de seu próprio interesse. Eu colocarei o Centro de Direitos Humanos da ONU à disposição dos governos para assistência técnica, ajuda, aconselhamento. Folha - Para isso, o sr. vai precisar de mais dinheiro do que o US$ 1,4 milhão de seu orçamento, não? Ayala Lasso - Com certeza. Mas eu acredito que, se há seriedade na decisão de dar ao alto comissário esta missão, também haverá seriedade para lher dar os necessários recursos humanos e financeiros. Folha - O que o sr. está dizendo é que seria hipócrita criar o cargo e não dar os recursos? Ayala Lasso - Sim. E eu não aceitarei isso. Texto Anterior: Jirinovski não perde mandato, diz assessor Próximo Texto: Alto comissário diz que recebeu condolências Índice |
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