São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Alto comissário diz que recebeu condolências

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

O equatoriano José Ayala Lasso foi o principal articulador de uma das mais delicadas negociações em 48 anos de história da Organização das Nações Unidas: a criação do alto comissariado para direitos humanos, cargo que ele próprio agora vai ocupar.
A discussão sobre o cargo, virtualmente tão antiga quanto a própria organização, se prolongou devido à resistência de ditaduras representadas nas Nações Unidas. Nos últimos anos, o maior foco de resistência foi o governo da China.
"Quando eu fui indicado presidente da comissão que estudaria a criação do cargo, recebi mais condolências do que parabéns. Os pontos-de-vista eram tão opostos que a negociação parecia um exercício fútil", afirmou Ayala Lasso em entrevista à Folha.
Para obter o que parecia impossível, Ayala Lasso simplesmente passou por cima de todas as questões de ordem ou discussões sobre procedimento e se concentrou no debate político.
O diplomata gosta de dizer que construiu em cima do espírito da Conferência de Viena, realizada três meses antes da reunião da Assembléia-Geral da ONU. Uma das recomendações de Viena foi justamente a criação do alto comissariado. "Trabalhei em cima desse consenso e tentei convencer todo mundo de que as suspeitas e preconceitos pertenciam ao passado, à época da Guerra Fria", disse Ayala Lasso.
O primeiro rascunho da resolução que criaria o cargo foi aprovado por unanimidade. Duas semanas depois, no dia 20 de dezembro, finalmente foi oficializada a decisão.
Representantes de países como os Estados Unidos acreditam que, no processo de negociação, podem ter sido feitas tantas concessões e limitações aos poderes do alto comissário que ele virou algo como um leão sem dentes. Mas, para o negociador-chefe, obter consenso entre os 184 países era bem mais importante do que reter poderes específicos. (FG)

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