São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Julgamento de marroquino é a nova polêmica

FERNANDA SCALZO
DE PARIS

O "affaire Dreyfus" voltou às manchetes da França este mês no último dia 2, quando a Justiça condenou o jardineiro marroquino Omar Raddad a 18 anos de prisão pelo assassinato de sua patroa, Ghislaine Marchall. À saída do tribunal, o advogado de defesa de Raddad, Jacques Vergès, indignado, declarou à imprensa: "Há cem anos, condenaram um jovem oficial porque ele cometera o erro de ser judeu, hoje condena-se um jardineiro porque cometeu o erro de ser magrebino" (oriundo do norte da África).
A declaração de Vergès deu origem a outro processo: o procurador da República de Nice o acusa de ter lançado "o descrédito sobre uma decisão da Justiça". Ironia à parte, Vergès foi o advogado de defesa do nazista Klaus Barbie.
Segundo pesquisa publicada na revista "Globe Hebdo", dois em cada três franceses são favoráveis a uma revisão do processo de Omar Raddad. A revista está à frente de uma campanha para a revisão do processo por falta de provas.
Intelectuais como Paul Virilio, Cornelius Castoriadis, Jacques Derrida, Marguerite Duras e a estilista Agnès B. assinam um apelo à Justiça, alegando que o acusado "nunca foi considerado inocente" e que "a dúvida pesou em favor da acusação".
Ghislaine Marchal foi encontrada morta no porão de sua casa em Nice na segunda-feira, dia 24 de junho de 1991. Na parede do porão estava escrito com sangue da vítima: "Omar m'a tuer" (algo como "Omar me matar").
O grave erro ortográfico (o correto seria "Omar m'a tuée") levantou as suspeitas de que não teria sido a vítima, uma mulher rica, letrada e fã de palavras cruzadas, a autora da frase incriminadora. Diante da inscrição e da resolução fácil do crime, a polícia de Nice não se preocupou em tirar as impressões digitais na parede e nem em investigar outras pistas. (FS)

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