São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994 |
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Myanma produz 60% da droga no mundo
RENATO MARTINS
Apesar de sucessivos regimes militares, todos prometendo a paz, Myanma está em guerra civil há cerca de 40 anos. Existem pelo menos 12 guerrilhas separatistas agindo no norte do país, cada uma em nome de uma minoria étnica ou tribal. Algumas controlam faixas expressivas do território. Os "senhores da guerra" que controlam essas forças frequentemente usam a produção de papoula, seu processamento para obtenção de ópio e a mais sofisticada operação de refino para transformar o produto em heroína como a principal fonte de recursos. O principal narcoguerrilheiro da região é Khun Sa, 60, líder do Mong Tai Army, da etnia shan. Filho de um chinês com uma birmaesa shan (seu nome chinês é Chang Chifu), ele começou no tráfico no fim dos anos 60, quando comandava uma unidade da guarda fronteiriça. Seu envolvimento com a guerrilha shan data dos anos 70, mas ele só se envolveu plenamente com o movimento separatista a partir de 1985, aparentemente na tentativa de aparecer mais como guerrilheiro do que como traficante –uma questão de imagem. Em novembro do ano passado, o Exército de Myanma iniciou uma ofensiva contra Khun Sa, deslocando três divisões para a região. Analistas ouvidos pela "Far Eastern Economic Review" duvidam, porém, de que as tropas consigam ameaçar seriamente Homong, a capital de Khun Sa. Ele comanda algo entre 15 mil e 18 mil homens. A fragmentação dos grupos guerrilheiros tem favorecido nos últimos anos o surgimento de novos líderes do tráfico. É o caso do chinês Lin Mingxian, um ex-militante da Guarda Vermelha durante a Revolução Cultural de Mao Tse-tung. Ele opera a partir de Mong La, junto à fronteira com a Província chinesa de Yunnan. Lin já recebeu até visitas de congressistas norte-americanos e a DEA financia um programa de substituição de colheitas na área sob seu controle (as plantações de ópio, porém, têm crescido mais nessa região do que em qualquer outra). Outros grupos fortes no tráfico de ópio incluem os clãs Pheung e Yang, na região de Kokang, a guerrilha liderada por Lo Hsing-han, que opera em Lashio, e os irmãos Wei, ligados à guerrilha da etnia wa. Wei Hsueh-kang, um dos irmãos, opera em Doi Laem, na fronteira tailandesa, e (além de Khun Sa) é o único a ter sido indiciado por um tribunal norte-americano. Na última terça-feira, o governo de Myanma assinou um acordo de trégua com a Organização Independente Kachin, grupo guerrilheiro que atua na fronteira com a Índia (noroeste do país). Outros quatro grupos separatistas haviam assinado tréguas com o regime nos últimos meses –o Partido Popular do Estado Shan, as guerrilhas separatistas Pa-O e Pa Long e o Exército Revolucionário Wa. A frente de Independência Karen, maior e mais antigo grupo guerrilheiro do país, também estaria negociando um cessar-fogo. Essas iniciativas de paz, simultâneas à ofensiva militar contra o narcoguerrilheiro mais notório do país, podem indicar um movimento dos militares birmaneses para obter algum reconhecimento internacional –e créditos e investimentos estrangeiros. Texto Anterior: Reformas levam ópio de volta à China Próximo Texto: Tradição impede a erradicação da heroína Índice |
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