São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Conflitos atrapalham super-rodovia dos EUA

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

A super-rodovia das informações, um plano para fazer os EUA darem um salto em tecnologia e competitividade, nem saiu do papel e já tem buracos. Um golpe no projeto foi acertado na quinta-feira, quando a telefônica Bell Atlantic e a líder da tevê a cabo nos EUA, Tele-Communications (TCI), desistiram da que seria a maior fusão da história do país.
A idéia da "super-rodovia", lançada há anos pelo vice-presidente Al Gore, cabe em filme de ficção científica.
Imagine a vantagem competitiva de empresas ligadas aos mais avançados centros de pesquisas e bibliotecas através de uma rede nacional de comunicações –uma estrada de mão dupla aberta a todas as informações disponíveis. Em casa, o consumidor acessa centenas de canais de televisão, os últimos filmes de Hollywood e, claro, a rede de informações apertando o botão do controle remoto ou do microcomputador.
É o que se anuncia como a nova era da informação interativa, em que se aliarão setores de informática, lazer e telecomunicações.
A obrigatoriedade desta aliança levou Gore a saudar a "liderança" da Bell e da TCI, quando alinhavou, no dia 11 de janeiro passado, as medidas que o governo adotaria para acelerar a construção da super-rodovia. Um dia antes, as duas empresas haviam divulgado que, nas regiões em que atuam, as escolas teriam acesso a serviços informatizados.
Foram, no entanto, medidas do governo que colaboraram para o fracasso das negociações que a Bell e a TCI mantinham desde outubro passado para acertar a megafusão de US$ 33 bilhões.
Além de prometer que o "pedágio" à super-rodovia será acessível a todos os norte-americanos, Gore disse que enxugaria e atualizaria a legislação que impede a livre concorrência entre as tevês a cabo e as companhias telefônicas, já que novas tecnologias permitem que ambas prestem serviços nas mesmas áreas. A legislação atual garante o monopólio de cada uma em seu setor.
Para o vice-presidente, promover a concorrência é uma forma de estimular o setor privado a se dedicar à construção da rodovia, na qual o investimento do Estado deve ser limitado.
Gore encarregou a Comissão Federal de Comunicações dos detalhes das mudanças na legislação. E foi uma ordem desta comissão, em defesa do consumidor, que levou ao colapso da megafusão. Pelo menos é o que alegam as empresas envolvidas.
A comissão considerou excessivas as tarifas das tevês a cabo e determinou um corte de 7%. Como a conta média do norte-americano com a tevê a cabo é estimada em US$ 20,45, isto significa uma economia de US$ 1,43 ao mês.
Com base no intrincado pré-acordo de fusão, a TCI afirmou que a tarifa menor abalou seu valor potencial na parceria com a Bell, ao alterar seu fluxo de caixa, e inviabilizou a união.
O fim abrupto das negociações caiu como uma bomba em Wall Street. Outras fusões para concorrer na super-rodovia estão comprometidas, avalia o mercado. A própria rodovia pode estar em risco. Parece que, para recuperar a confiança do mercado, Washington terá de enfrentar o nada inédito conflito entre os interesses dos monopólios e os dos consumidores.

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