São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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caindo na REAL

GEORGE ALONSO

"Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil" fica pronto em março. É o primeiro longa dirigido por Carla Camurati. A atriz diz não temer a crítica e se compara a um boxeador, que leva porrada sem se entregar. Linda aos 34, não perde tempo cultuando o corpo. "As rugas vêm, as coisas caem mesmo"
- Seu primeiro longa é um filme histórico. Por que?
- Sempre quis fazer um filme sobre a história do Brasil. Estudando, vi que o momento mais legal foi a chegada da família real. Ela mudou a relação do Brasil com os outros países da América Latina. O Brasil foi o único que teve rei. Isso nos deu a prepotência. As monarquias caíam pelo mundo e o Brasil iniciava seu desenvolvimento com um rei na barriga, sem tino para governar (d. João 6º), que veio com uma louca (d. Maria 1ª) e uma mulher ninfo (Carlota Joaquina).
- É drama ou comédia?
- É uma comédia sobre um período divertido do Brasil, apesar de momentos trágicos. Tudo se passa na cabeça de uma menina de 10 anos, que mora na Escócia. Um tio conta para ela a história de Carlota. A narração faz interrupções diretas na trama. Os fatos são históricos, mas a visão é a que passa pela fantasia da menina. E o filme é falado em várias línguas, de acordo com a origem do personagem, como era na época.
- Por que escolheu Carlota?
- Nos livros, a gente só sabe quem foram os heróis. D. João 6º, dna. Maria 1ª e Carlota, que era muito feia, não são figuras heróicas. Pesquisei em Portugal, Espanha e descobri que todos escondem esse período. Para Portugal, a história é vergonhosa porque d. João saiu fugido. Para a Espanha, porque traiu Portugal. Para o Brasil, porque era muito pobre.
- Você está com medo da crítica?
- Cago um pouco para crítica. Será maravilhoso se gostarem. Já ganhei muita crítica boa, prêmios e nada mudou nada. Entre Palma de Ouro e cinema lotado, prefiro cinema lotado.
- Como arrumou dinheiro para fazer o filme?
- Meu filme é maravilhosamente pobre. Recebi US$ 100 mil da Secretaria de Turismo do Maranhão, onde filmei externas. O Banco do Brasil, que foi criado por d. João, deu US$ 100 mil. Ao todo, foram US$ 300 mil. O resto é permuta.
- Você está disposta a ser mais diretora do que atriz?
- Vou continuar atriz. Mas não fico mais sentada esperando que me chamem para dançar. Quero selecionar o que faço.
- Por que só agora resolveu dirigir um longa?
- Demorei para decidir sobre o que falar. Tenho outras coisas meio feitas, como "Copacabana", que trata da velhice.
- A ex-menina que posou nua se preocupa com a velhice?
- Não malho, não. Faço exercícios para que meu corpo tenha a energia de que preciso. As rugas vêm, as coisas caem. O homem anda com muito medo porque tem investido em cavalo perdedor: aí fica angustiado. Quem só pensa em muito dinheiro, só pra ele, foda-se o mundo, sabe que pode morrer em dois segundos e perder tudo. Quem investe horas malhando para ter a bundinha lá em cima, sabe que vai perder também.
- Você ainda prega a liberação da maconha?
- Não faço mais uso de drogas. Concentro minhas energias.
- Você parece manter a mesma força do início de carreira.
- Me sinto cada vez melhor. É como se eu tivesse o sabor do boxeador, que a cada porrada pensa "ah é, vem cá seu filho da puta, que agora eu te pego". Lendo história vi que a vida era muito mais aventura: as pessoas se jogavam no mar, em caravelas. Hoje, viver é se preservar. O legal é aproveitar a vida para fazer o que se quer, não para se preservar.

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