São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994 |
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TVA dá exemplo com estilo informativo de transmissão
SERGIO SÁ LEITÃO
Não há segredo, na verdade. Comentaristas e narradores apenas não torcem, distorcem e retorcem o espetáculo. Dispensam gritos, elogios mútuos, piadas desnecessárias, chutes e comentários sobre o restaurante onde pretendem jantar após a transmissão. Em troca, oferecem informações objetivas, comentários apoiados em dados, raciocínios que não ferem a inteligência e reportagens que não agridem o bom senso. Fossem menos indigentes as habituais incursões esportivas das emissoras abertas, não haveria tanta surpresa. O estilo informativo não é criação da TVA –há muito os telespectadores norte-americanos rejeitam o besteirol "danoninho". Tome-se, por exemplo, a transmissão de uma pugna da NBA, via TNT. O narrador não se limita a seguir a bola, nomeando os que detêm a sua posse transitória. Ele dialoga com o comentarista, complementando as imagens. Explica o que não se vê na tela, informa sobre os lances e traduz o clima do ginásio. Assim faz a TVA no futebol. Cinco câmeras registram as imagens e cinco especialistas cuidam de tirar o espectador das trevas. Há um narrador, um comentarista, um convidado especial e dois repórteres. Profissionais capacitados, oferecem abordagens diferenciadas. O formato pode e deve ser aperfeiçoado, porém. A TVA quer ter mais uma câmera, para fazer closes dos jogadores. José Trajano, editor de esportes da emissora, fala em montar um estúdio nos estádios –para que o espectador veja os comentaristas e narradores– e em associar o Datafolha às transmissões, abastecendo a equipe de estatísticas sobre o jogo. 'Slides' com as fichas dos jogadores também serão usados. Trajano diz que o "target" da emissora facilitou a adoção do estilo informativo. "Como se trata de uma TV por assinatura, sabemos exatamente o perfil de nosso público", explica. São pessoas de classes A e B, com formação universitária. Que as emissoras abertas não usem o público, entretanto, como desculpa para rejeitar a bossa. A idéia de que a massa aprecia ufanismo e desinformação soa a preconceito. O torcedor gosta de ver sua paixão tratada a sério e curte informações que alimentem discussões em botequins. São bem-sucedidas, aliás, as iniciativas análogas que vez por outra assaltam as emissoras abertas. A Cultura trabalha o estilo informativo nas transmissões do Campeonato Alemão e a Bandeirantes faz o mesmo, há meia década, com Sílvio Lancellotti, nas partidas do Campeonato Italiano, e Eli Coimbra, nos embates nacionais. A Globo melhora o programa de intervalo de partidas e a reportagem. Agora que as novas câmeras –atentas aos detalhes e dispostas em ângulos inusitados– já são comuns no futebol, surge a necessidade da segunda revolução. Devem as emissoras captar a mensagem da TVA, modificando também o conteúdo das transmissões. Que tal começar na Copa? Texto Anterior: O caubói se recusa a morrer Próximo Texto: Raimundo Flamel enfrenta chantagem Índice |
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