São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Salários e preços

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso, um dia depois do anúncio do plano e dois dias depois de sua primeira blitz de comunicação, no Fantástico, baixou ontem à noite no Aqui Agora. Foi uma entrevista exclusiva, com o intuito claro de reagir à campanha contra o plano realizada pelos chefes sindicais. Uma campanha que anda ameaçando com greve geral.
A entrevista acompanhou a encenação de sempre, no Aqui Agora. Celso Russomano entrou pelo gabinete, pedindo licença para "Fátima", a secretária. "Aqui é a sala do ministro", foi informando o repórter. "Tudo bem, ministro? Tudo em ordem?" FHC: "Tudo. Muito trabalho, cansado, mas aqui, firme." O primeiro assunto sério, como era de esperar, foi o salário.
Questão: "Os sindicalistas estão falando em perda salarial..." Resposta: "Olha, eu não sei se há perda. Eu acho que não tem. A imensa maioria dos trabalhadores não tem perda nenhuma. Pode ser que algum setor tenha uma diferença. Nesse caso, o empresário tem que fazer o que o governo já fez. Acerta. Acerta porque o trabalhador merece."
Não é assim que ele vai conseguir reagir aos discursos fáceis de Meneguelli e Medeiros. Os sindicalistas, ambos candidatos em novembro, aumentaram os ataques nos telejornais de ontem. O presidente da CUT, antes mais contido, ontem falou abertamente em greve geral, no Jornal Nacional. O presidente da Força Sindical, registrou o TJ Brasil, quer fazer a greve número um.
E os preços subindo, alimentando a campanha dos sindicalistas-candidatos contra o plano. FHC, no Aqui Agora, mal sabia o que priorizar, se os salários em queda ou os preços em alta. Estava acuado, já que o ministro do Trabalho simplesmente "sumiu", segundo o Jornal Bandeirantes. Sozinho, Fernando Henrique sugeriu bobagens como o dia de reflexão no dia da greve geral.
Enquanto isso, a Globo pintava o mais belo dos mundos. Alexandre Garcia, o eterno porta-voz: "Os salários já estão sendo convertidos em URV. O mercado prepara a atualização dos contratos. As imobiliárias anunciam que haverá maior oferta de imóveis e os aluguéis podem cair. As lojas já estão marcando preços em URV. Os empresários preparam uma campanha de preços com responsabilidade. E o governo se prepara para punir com vigor os abusos." Palmas, palmas.

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