São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Bactérias podem tratar esgoto espacial

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando astronautas embarcarem numa estação orbital ou, eventualmente, estiverem a caminho de Marte, terão como companhia necessária alguns bilhões ou trilhões de micróbios comilões. A Nasa (agência espacial dos EUA) encomendou à empresa Micro-Bac o desenvolvimento de um sistema de purificação de esgoto utilizando bactérias conhecidas por devorarem material orgânico. O estudo custou US$ 400 mil.
Os testes de laboratório deram certo, e agora a empresa se prepara para comercializar essa "mini-usina tratadora de esgotos". Em um dos subprodutos mais irônicos da pesquisa, a tecnologia criada para uma "casa" orbital de bilhões de dólares, a estação Freedom, poderá facilitar a construção de casas populares na Terra, segundo Ercole Américo Carpentieri Jr., diretor da filial brasileira da Micro-Bac. A tecnologia pode reduzir a necessidade de rede de esgotos em determinados locais.
As bactérias em questão são "fototróficas", isto é, elas usam a luz para quebrar material orgânico em seu metabolismo. "Tais tipos de metabolismo podem ser usados para degradar componentes de resíduos líquidos", diz o pesquisador norte-americano Dennis Ray Schneider, microbiologista da Universidade do Texas e da Micro-Bac, nos EUA.
Schneider veio a São Paulo fazer uma palestra sobre seu trabalho na 5ª Conferência Regional da Iuappa (União Internacional das Associações de Prevenção à Poluição e de Defesa do Meio Ambiente), realizada esta semana na Escola Politécnica da USP. Ele disse que os efluentes tratados com as bactérias fototróficas mostraram uma notável redução de coliformes fecais –bactérias patogênicas, capazes de produzir doença.
As bactérias comilonas de esgoto reduziram a população de suas rivais nocivas, como as dos gêneros Salmonella e Shigella. Schneider não sabe ainda o porquê, mas acredita que houve uma competição pelo alimento, vencida pelas fototróficas.
A tecnologia de bactérias comilonas da empresa deverá ser testada este mês em São Sebastião (SP) com outro objetivo: limpar tanques de armazenamento de petróleo da Petrobrás . As frações mais pesadas do petróleo tendem a se acumular no fundo dos tanques. As bactérias ajudam a tornar esse resíduo mais líquido, facilitando o manuseio.

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