São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Pavilhão 9 reabre 17 meses após o massacre

LUÍS EDUARDO LEAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo –conhecido pelo massacre de 111 presos durante invasão da Polícia Militar, em outubro de 1992– deverá ser reaberto em 15 dias. A informação foi dada ontem pelo secretário da Administração Penitenciária, José de Mello Junqueira, durante visita às novas instalações do pavilhão.
Os primeiros presos a ocupar as 318 celas distribuídas por quatro andares deverão vir da própria penitenciária. "O critério para transferências internas será o bom comportamento", diz Willo de Jesus, diretor da Detenção. Mas a maior parte das novas celas deverá ser ocupada por presos que superlotam os distritos policiais da capital, com preferência para os que cumprem pena pela primeira vez.
Não há mudanças significativas em relação ao projeto original do pavilhão. As salas de culto religioso –três, para católicos, evangélicos e umbandistas– foram ampliadas. Segundo o secretário da Administração Penitenciária, a prática religiosa deve ser incentivada como "elemento de ressocialização dos detentos". Para os presos evangélicos, uma novidade: um tanque destinado a batismos.
Além das salas de culto, também estão no térreo do novo pavilhão 9 as salas de trabalho, barbearia, refeitório dos funcionários, carceragem central, assistência judiciária, enfermaria e sala de aula.
Pelos quatro andares acima do térreo se distribuem 266 celas com capacidade para três, seis, nove ou 12 presos, além de 52 celas individuais. Segundo o diretor da Detenção, as celas individuais serão destinadas aos presos doentes ou sob ameaça. O pavilhão 9, estima Willo de Jesus, deverá receber entre 1.500 e 1.700 detentos –abrigava 2.069 na época do massacre.
Em outubro de 92, a superlotação obrigava os presos a apoiar tábuas sobre os beliches de madeira para aumentar o número de "leitos". Com a reforma do pavilhão, os beliches de madeira foram trocados por outros, de concreto e com espaço para três colchões. Foram instalados vasos sanitários –os presos usavam fossas conhecidas como "bois"– separados do chuveiro e da pia por divisões de concreto.
A reforma –iniciada logo após a rebelião de 92– demorou um ano e três meses para ser concluída, mesmo tendo sido contratada em caráter de emergência. A necessidade de recuperar rapidamente o pavilhão destruído, alegava o governo na época, justificaria a dispensa do processo de licitação –prerrogativa das obras ditas emergenciais. Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, a obra custou US$ 1,5 milhão.
O secretário Junqueira prevê a desativação da Detenção em prazo de três anos. Segundo ele, a penitenciária será substituída por "dez ou 15 cadeias" na Grande São Paulo, com capacidade para até 600 presos –a primeira delas teria sua licitação publicada ainda durante a administração Fleury.

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