São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Plínio é mauricinho com cartão gold

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Não entendi direito essa história de "plínio", a nova alcunha para a rapaziada engomadinha dos Jardins que esquia em Aspen, nos EUA, e anda de jet-ski em Saint Barthélemy, no Caribe.
Quer dizer que a diferença entre o plínio e o mauricinho é que um anda de helicóptero e o outro de Kadett Cabriolet? O plínio frequenta o bar Cabral e o mauricinho vai ao Columbia? É só isso? Então a diferença é sutil demais para ser absorvida pelos meus parcos neurônios...
No último fim-de-semana fiz uma descoberta interessante. No domingo, para fazer jus ao sangue exclusivo que corre em minhas veias, pretendia jogar golfe. Mas, o golfe não foi inventado na Escócia por acaso. Trata-se de um esporte que tem pouquíssima afinidade com o calor. Acabei, então, optando por ir nadar acompanhada de meu bom amigo Thomas Tigando.
Como Tigando é um daqueles seres irritantes que nadam cinquenta piscinas seguidas, para não morrer de tédio diante da profusão de braçadas, resolvi me entreter com o livro de contos "Primo Altamirando e Elas" (Círculo do Livro, 1968) de Sérgio Porto, ou melhor, do grande Stanislaw Ponte Preta.
Pois não é que em um dos contos, "Le Chien de Monsieur le Coiffeur", escrito no início dos anos 60, Stanislaw sintetiza certo tipo de personalidade usando o apodo "Mauricinho"? Eis um trecho: "Primo Altamirando tem um otário que anda sempre com ele e que ele usa para cartar marra. (...) Chama-se Mauricinho o otário. (...) ela (a imprensa sadia) é nosso Mauricinho."
"Le Chien de Monsieur le Coiffeur" coloca um ponto final na origem do termo. Prova que ele não foi inventado por algum gênio revoltado do calibre de Gabriel (Belisa Ribeiro) o Pensador ou outro invejoso qualquer que se rói diante dos jeans Forum que o coxinha endinheirado veste e as bonecas infláveis que ele carrega sempre à tiracolo.
O mauricinho, quem diria, é do tempo do almofadinha. O conto de Stanislaw também derruba por terra a teoria de que o cognome tenha surgido no Rio em meados dos anos 80, inspirado no janotinha Maurício, jogador de futebol que atuou como ponta-direita do Vasco da Gama e depois sumiu do mapa.

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