São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Supermercados tentam usar novo indexador em vendas a prazo

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à confusão e ao recebimento de tabelas, para o mês de março, que chegam até à 45% de reajuste, as grandes redes de supermercados de São Paulo iniciaram, ontem, conversações para tirar os negócios da paralisia existente desde que a URV (Unidade Real de Valor) foi divulgada.
Os supermercados querem utilizar a URV como indexador nas compras à prazo da indústria.
O varejo propõe, como ponto de partida para o acordo, a média dos preços praticada pela indústria entre setembro e dezembro de 93.
O maior empecilho é que os bancos ainda não foram autorizados a descontar duplicadas com indexador pós-fixado em URV. Existe a proposta de se utilizar os contratos tipos "vendor" e "compror" até que a URV possa constar das duplicadas.
Pela modalidade, não se combina uma taxa de juro previamente. O encargo financeiro fica atrelado à variação de determinado índice.
Grandes fornecedores estão favoráveis à proposta, desde que a negociação considere item por item. Querem ainda a contrapartida, dos supermercados, de que poderão aumentar os preços em URV caso ocorra pressão nos custos.
João Carlos de Paiva Veríssimo, diretor financeiro do Eldorado, informou que a rede transformou os preços médios dos fornecedores dos últimos dois meses em dólar, para efeitos comparativos com as novas tabelas da indústria para março. "Nossa orientação é a de não aceitar preços superiores à média do último bimestre", disse.
Ontem, as negociações para compras em grandes volumes continuaram paralisadas nos supermercados. Os principais fornecedores tiraram os seus gerentes de contas especiais (responsáveis pelo atendimento as grandes redes e aos atacados) das ruas. Existe o temor de que os preços com descontos que vinham sendo praticados acabem sendo adotados em URV, dificultando reajustes futuros.
Desde que a medida provisória que institui a URV foi divulgada, na última segunda-feira, varejo e indústria tem realizado apenas compras de reposiçaoie
Arthur Sendas, presidente do grupo Sendas, informou que sua rede prossegue normalmente com as operações de compra e venda em cruzeiros reais.
Ele acha inócua a prática dos fornecedores que suspenderam os descontos. "Ainda não conseguimos recuperar o patamar de consumo de 1989; a economica recessiva vai coibir essa prática", afirmou.
Levy Nogueira, presidente da Associação Brasileira dos Supermercados (abras), vê ainda complicadores, na passagem para a URV, da cobrança do ICMS sobre encargos financeiros.
Nessa queda de braço, a indústria conta, a seu favor, com os baixos estoques disponíveis no varejo. Em janeiro e fevereiro os grandes fornecedores cumpriram metas, nos casos otimistas, de apenas 70% de suas previsões de vendas para o mês. Os supermercados seguraram as compras, na expectativa de que poderiam, com a URV, comprar por preço inferior.
Como o governo deixou a negociação em aberto, a expectativa é a de que o ritmo das compras do comércio para a indústria retome, pelo menos, os mesmos patamares verificados em igual período de 93.
Para se familiarizar com a URV, grandes redes de São Paulo cogitam colocar, ainda nesta semana, um congelamento simbólico de preços em URV nas promoções tradicionais. Essa, por enquanto, deverá ser a única novidade que o consumidor irá encontrar nos supermercados, já que os preços continuarão expressos em cruzeiros reais e com reajustes calculados com base na expectativa de inflação para o mês de março.

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