São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Páram negociações no 1.º dia da URV

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro dia da existência da URV (Unidade Real de Valor) a indústria e o comércio pararam as negociações. Os empresários passaram o dia de ontem estudando a medida provisória n.º 434, que instituiu a URV. Há grande expectativa entre eles para saber qual será a taxa de juros praticada nas negociações com o novo indexador. Há também dúvidas para operacionalizar o uso da URV.
Eugênio Staub, diretor presidente da Gradiente, que atua no setor eletroeletrônico, por exemplo, analisava ontem com diretores da empresa a MP para saber se é possível ou não emitir nota fiscal em URV. "Mas essa é uma questão operacional. Achamos que toda a economia vai adotar a URV muito rapidamente."
Paulo Triches, presidente da Enxuta, fabricante de eletrodomésticos, aguarda os preços "urvizados" dos seus fornecedores para, em seguida, lançar a sua tabela de preços, baseada no novo indexador. "Primeiro preciso saber quanto eles vão me pedir pelos componentes. Como a maioria dos meus fornecedores já tinha tabelas dolarizadas, suponho que não deve haver grandes alterações de preços. Mas preciso ter essa certeza."
Uma das dúvidas de Triches ontem era quanto à taxa de juros que será praticada pelos bancos no uso do sistema Vendor -por esse mecanismo, a indústria vende para o comércio a prazo, mas recebe o dinheiro pela venda praticamente a vista do banco; assim, o comércio tem que pagar a dívida para o banco, tendo como avalista do contrato a indústria que fez a venda. "É importante sabermos se o sistema Vendor vale para a URV porque 90% da nossa venda é feita por esse mecanismo."
A indústria eletroeletrônica, deve, no entanto, sair na frente na conversão de preços em URV. Boa parte dos empresários consultados pela Folha informa que até o final da semana as suas tabelas de preços já estarão impressas em URV. A facilidade na conversão, dizem eles, se deve ao fato de as empresas estarem adotando o dólar como indexador há algum tempo.
"A adoção da URV pelo mercado será bastante rápida", diz Staub. Segundo ele, em dois ou três dias a Gradiente estará com tabela de preços "urvizada". "Não haverá aumento real de preços na conversão. O nosso setor é bastante competitivo."
No comércio há mais preocupação. Heraldo Infante, diretor executivo da Casa Centro, tem a seguinte dúvida: "O governo fala que temos que colocar os preços nas etiquetas em cruzeiros reais e, se quisermos, colocar a referência em URV. Só que se compramos da indústria em URV e se expressamos os preços em URV vamos ter que alterar os preços em cruzeiros todos os dias, porque a URV vai mudar diariamente. Isso vai ter impacto forte no consumo. A nossa política atual é a de fazer reajustes semanais e não diários. Vamos aguardar para ver como fica essa questão."
O Mappin decidiu ontem que só vai colocar preços em URV quando a nova moeda –o real– entrar no mercado. "Por enquanto estamos comprando em cruzeiros reais e vendendo em cruzeiros reais", diz Sérgio Orciuolo, sub-diretor de comunicações e promoções do Mappin. Segundo ele, há tranquilidade nas conversas com os fornecedores.
Gerson Aronson, diretor comercial da rede de lojas G. Aronson, informa que a empresa só coloca preços nas etiquetas em cruzeiros reais. "Se colocarmos a referência em URV vai complicar para o consumidor". Nesta semana, a G. Aronson deve comprar da indústria entre 300 e 1.000 televisores para abastecer as suas lojas. Segundo ele, não deve haver grande complicação nas negociações com os fornecedores porque as tabelas da indústria já estavam dolarizadas. A Arapuã reuniu seus diretores na tarde de ontem para discutir a nova MP. "Por enquanto está tudo calmo", diz João Alberto Ianhez, diretor de relações públicas.

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