São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Juro da URV atordoa o mercado financeiro

Projeções de 41% a 43% de inflação confundem mais

DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro dia da URV, o mercado financeiro ficou confuso e tentou buscar de todas as formas os parâmetros para definir o juro nesta fase do Plano FHC e adivinhar o preço do dinheiro quando entrar o Real. O principal indicador foi o volume expressivo de negócios nos mercados futuros de taxas de juros e de dólar na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), onde os negócios concentram as expectativas sobre o que vai acontecer com o dinheiro.
Ontem, o movimento financeiro no mercado futuro de juros atingiu US$ 2,6 bilhões, contra uma média diária de US$ 1,7 bilhão em fevereiro, o que representa um salto de mais de 50%. No câmbio futuro, o volume de ontem chegou a US$ 447,5 milhões. No mês passado, a média ao dia ficou em US$ 366,2 milhões.
Também por causa da insegurança em relação aos juros, o mercado e o Banco Central não chegaram a um consenso que viabilizasse os leilões de títulos públicos realizados ontem e anteontem. Na segunda-feira, o BC vendeu apenas 35% do lote total de NTNs (Notas do Tesouro Nacional) corrigidas pelo câmbio. Ontem, foi a vez de o mercado não realizar oferta suficiente para comprar todos BBCs (Bônus do Banco Central) oferecidos pelo governo.
O fracasso do leilão de NTNs foi provocado pela dispersão das taxas propostas pelo mercado, que variaram de 28% a 45% ao ano. A abertura das taxas demonstra que o pessoal do mercado sabe que o juro na nova moeda será alto, mas não sabe precisar quanto. Na dúvida, jogam com uma alta margem de segurança.
No caso dos BBCs, o problema foi a perspectiva de inflação para março e a expectativa de extinção dos títulos prefixados. Mesmo aqueles que acreditam numa inflação estável não arriscaram comprar BBCs que não garantissem uma rentabilidade sobre uma inflação de 41,5% em março.
Segundo Luis Fernando Braga, diretor financeiro do banco Nacional, cada um tem seu cenário para os juros e ainda falta muito para o mercado encontrar o equilíbrio. "Entre 2% e 4% reais ao mês, vale tudo", afirma. "E a taxa prefixada de 30 dias acaba acompanhando essa dispersão, pois todo mundo quer antecipar o juro futuro da BM&F", completa.
Para complicar ainda mais este quadro, os profissionais do mercado financeiro tentam entender alguns artigos da medida provisória que criou a URV. O artigo 7, por exemplo, abre uma brecha para a aplicação de uma tablita na conversão para a nova moeda, o Real. As entidades do setor vão tentar derrubar este artigo na votação da MP no Congresso.
O artigo 36, que desconta o rendimento do IGP-M nas NTNs, também é motivo de protesto. Alguns bancos já se mobilizam para fazer uma avaliação jurídica e não afastam a possibilidade de apelar na Justiça.
Para José Berenger, diretor financeiro do ING Bank, não dá para saber se juros de 20%, 30% ou 40% serão adequados para contratos que vencem depois da mudança do padrão monetário. "Só temos a sensação de que o juro será alto. O problema é o quanto".

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