São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Croatas e muçulmanos acertam federação

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Representantes dos governos da Bósnia (muçulmano) e da Croácia e dos croatas-bósnios assinaram ontem à noite em Washington um acordo para formar uma federação na ex-república iugoslava, em guerra civil há quase dois anos. O acordo isola diplomaticamente os sérvios e recoloca a possibilidade de manter pelo menos parcialmente a unidade política da Bósnia.
A iniciativa de mediar o acordo foi dos EUA, que nos últimos meses se mantiveram à margem dos esforços da ONU e da União Européia em torno de um plano de paz favorecido pelos sérvios. Esse plano prevê a divisão da Bósnia em três, enquanto o acordo assinado ontem garantiria alguma unidade.
Em Moscou, o líder dos sérvios-bósnios, Radovan Karadzic, anunciou que suas forças permitirão a abertura do aeroporto da cidade muçulmana de Tuzla (noroeste) para vôos levando ajuda humanitária. Tuzla está sitiada pelos sérvios desde o início da guerra e sofre bombardeios constantes.
O anúncio foi feito ao fim de uma reunião entre Karadzic e o chanceler russo, Andrei Kozirev. Os sérvios aceitaram a reabertura depois de a Rússia, sua tradicional aliada, prometer que enviará 50 militares para Tuzla. A ONU pretende reabrir o aeroporto até dia 7.
A intervenção diplomática de Moscou foi semelhante à que convenceu os sérvios a curvar-se ao ultimato da Otan, no mês passado, e retirar a maior parte de seu armamento pesado de Sarajevo em troca da presença de tropas russas na cidade. Nos dois casos, o recuo sérvio ocorreu em momentos de tensão –o ultimato da Otan, em janeiro, e a derrubada de quatro aviões sérvios por caças da aliança militar ocidental, anteontem.
O governo bósnio e o comando das forças da ONU reagiram friamente à proposta. O vice-presidente Ejup Ganic disse que condicionar a abertura do aeroporto à "infiltração" de tropas russas "é um insulto à ONU". Um oficial das forças de paz em Sarajevo ressaltou que os russos em Tuzla estarão sob comando de um coronel sueco.
A agência "Montena", de Montenegro (que com a Sérvia compõe a nova Iugoslávia), anunciou que foram identificados como sérvios-bósnios três dos quatro pilotos dos aviões Galeb derrubados pela Otan. O quarto piloto teria sobrevivido. A ONU retomou os comboios de ajuda humanitária à Bósnia, que haviam sido suspensos anteontem. Os sérvios voltaram a bombardear Maglaj, cidade muçulmana no norte da Bósnia.
A Rússia bloqueou iniciativa da França que colocaria quatro cidades bósnias sob proteção da ONU nos mesmos termos que Sarajevo –com ameaça de ataques da Otan.

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