São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Turbulência à vista

Passado um dia após a edição da medida provisória 434, que cria a URV, as pressões e os problemas em torno do Plano FHC começam a tornar-se mais evidentes. Embora boa parte das lideranças empresariais tenha-se manifestado a favor das medidas, vários sindicatos e políticos já afirmaram não concordar com o plano, dando até mesmo algumas amostras de que o Executivo deverá enfrentar resistências no Congresso e fora dele.
A equipe econômica depende de várias votações no Parlamento. Em primeiro lugar, é necessário aprovar um Orçamento minimamente equilibrado, fundamental no sentido de convencer os agentes econômicos de que as contas do governo não vão pressionar a inflação. Além disso, há evidentemente a própria votação da MP 434.
O ponto central dessa medida é a fixação dos salários pela média dos quatro últimos meses, o que resulta em um salário mínimo de US$ 64,79. No entanto, vários partidos já se posicionaram a favor de uma elevação salarial, mostrando que essa votação tende a ser difícil.
Por outro lado, há uma outra batalha a se desenrolar fora do Congresso. Afinal, a equipe econômica afirma que não irá permitir aumentos abusivos de preços, embora rejeite –corretamente– um congelamento. É certo que a economia brasileira possui muitos oligopólios, e vários estudos publicados pela Folha mostram que esses setores acumularam ganhos não desprezíveis nos últimos tempos.
Um combate eficiente à inflação deve contar com o recurso a mecanismos de proteção à concorrência –existentes, aliás, em todas as economias desenvolvidas. Diminuição de barreiras alfandegárias e a ameaça de promover devassas fiscais são outras alternativas de que dispõe o governo para coibir abusos sem ter de promover intervenções arbitrárias sobre os preços.
Esses pontos dão uma idéia das terríveis dificuldades que a equipe econômica terá pela frente na condução do plano. Dificuldades, aliás, inerentes a um governo fraco que, em ano eleitoral, tenta debelar a inflação num país que já convive com ela há muito tempo.

Texto Anterior: Quadrinhos e Aids
Próximo Texto: A greve de Medeiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.