São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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Estresse é o maior inimigo dos pilotos

NUNO COBRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem analisa um piloto sentado em seu carro não pode avaliar o quanto é estressante esta profissão. Ficar espremido em um cubículo onde mal dá para mexer os braços, com as pernas sempre na mesma posição, mantendo seu corpo estático e tensionado, por duas exaustivas horas, não é nada agradável.
Se você colocar nisso a sobrecarga de peso sofrida por todo o seu corpo, devido à Força G de até cinco vezes o seu peso, verá também que não é nada fácil.
Talvez poucas pessoas suspeitem, mas esta profissão de piloto não é apenas uma das mais perigosas, como também uma das mais desgastantes, comparada apenas aos desgastes sofridos pelos pilotos de provas de jatos de caça, que são obrigados a voar a uma velocidade de duas a três vezes à do som, e a poucos metros do solo.
Sua frequência cardíaca média durante duas horas fica em torno de 190 batimentos por minuto, o que é excessiva se comparada com todos os outros esportes. Isso exige que o piloto explore ao máximo seus limites físicos e mentais, não só para melhorar sua performance, mas também para não colocar em risco a sua vida e a de seus companheiros.
Sem dúvida nenhuma a primeira capacidade física exigida nesta habilidade é o desenvolvimento cardiovascular, que irá promover maior eficiência de seu coração, pulmão e sistema circulatório. Isto é fundamental para que o piloto possa suportar o estresse provocado por duas horas de esforço máximo e ininterrupto.
Um melhor condicionamento físico vai proporcionar uma melhor performance nas pistas, além de resguardar no futuro a sua saúde e prolongar a sua carreira. A eficiência cardiovascular está diretamente relacionada com o desempenho. Quanto mais, melhor.
Se um piloto pudesse ter o mesmo ritmo da largada até a bandeirada final, ele certamente superaria todos os demais com uma máquina até melhor que a dele. Aliás, o Ayrton Senna conseguiu este feito o ano passado em várias oportunidades.
Com um equipamento nitidamente inferior, Ayrton derrotou o favorito Alain Prost, que tinha disparado o melhor carro do campeonato, e venceu os GPs do Brasil, Europa, Mônaco, Japão e Austrália.
Braço
O segundo ponto a ser desenvolvido em um treinamento para pilotos é o famoso braço tão falado nas transmissões das corridas, que aliás não é evidentemente só o braço, mas todo um conjunto de músculos que vão desde a musculatura das costas que protege a coluna vertebral até o antebraço, que faz o trabalho de prensa sobre o volante.
Dentro desse conjunto, a musculatura abdominal é para mim a número um, por sua influência nos movimentos de coordenação motora fina, que possibilita a harmonia de toda a musculatura que está sendo exigida.
Ombros e pescoço são também muito exigidos. O primeiro sustenta todo o esforço do braço e antebraço, não apenas na prensa do pesado volante e na exigente troca de marchas, como também o pescoço –que sustenta o capacete e a desagradável Força G.
Para suportar o estresse a que é submetido, é vital o desenvolvimento cardiovascular aliado a um grande trabalho de fortalecimento e resistência na musculatura mais exigida, complementado por um trabalho de relaxamento e mentalização, que irá fortalecer sua concentração e seu poder mental.

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