São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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Filme divide opiniões entre os que convivem com o vírus e a doença

EDUARDO SIMANTOB
DA REDAÇÃO

O modo como "Filadélfia" trata a questão da Aids provocou dois tipos de reacão. De um lado, o psicoterapeuta Celso Altaf, 38, que atende soropositivos e doentes, acha que o filme cai nos estereótipos mais comuns relacionados à doença. O escritor Mario Rudolf, 35, portador do vírus HIV, disse haver se identificado com o personagem interpretado por Tom Hanks pois também foi despedido de seu emprego por ter contraído o vírus, e teve que enfrentar problemas semelhantes de se afirmar socialmente em função desse seu "novo status".
Em sua opinião, o filme é bastante pertinente em sua intenção de atingir o grande público, expondo o quanto se castra as pessoas que vivem a experiência da homossexualidade. Além disso, diz ele, "Filadélfia" escancara um sentimento de fraternidade falsa, que só diz respeito àqueles que possuem um padrão de vida acima da média, que praticam o mesmo credo e as mesmas práticas sexuais.
Celso Altaf discorda de Rudolf. Ele não gostou do filme principalmente pela preocupação do enredo em discutir como o vírus foi contraído, fazendo do homossexual uma figura promíscua e estereotipada. "A questão do sexo seguro, independentemente do local em que é praticado, nem é levantada no filme", diz Altaf. Além disso, o fato de o personagem de Tom Hanks ter uma família compreensiva e meios para contratar um bom advogado, não está de acordo com a realidade da maioria dos portadores do vírus e das que desenvolvem a doença.
No entanto, ambos colocaram críticas ao desfecho. A morte do doente seria dispensável. Afinal, segundo Altaf, existem pessoas que convivem com o vírus HIV há 12 anos sem manifestar os sintomas da doença. "A morte social é o pior sintoma da Aids", diz. (Eduardo Simantob)

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