São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Zagalo agora faz a defesa de esquema sem ataque

HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A próxima evolução tática do futebol pode ser o 4-6-0, afirmou ontem, em Madri, o assistente técnico da seleção brasileira de futebol, Zagalo. Já o treinador Carlos Alberto Parreira descartou a possibilidade de a seleção jogar com cinco atacantes. "Isso é coisa de quem está por fora do futebol mundial, de quem não viaja ou está torcendo contra", afirmou.
"Jogar com cinco atacantes é fazer o Brasil voltar 30 anos no tempo", disse Parreira. O treinador e Zagalo receberam a Folha para uma entrevista exclusiva ontem em Madri, onde foram ver a partida entre Real Madrid e Paris Saint-Germain. Parreira negou ter uma preocupação defensiva. "O importante é jogar o nosso futebol, mas para isso é preciso roubar a bola reforçando o meio-campo", afirmou.
Segundo o técnico da seleção, na última Copa a maior parte das seleções jogou num esquema 5-3-2 ou 3-5-2. Já nessas eliminatórias, times como a Suécia e a Noruega se apresentavam no 4-5-1. "Essas equipes devem jogar assim na Copa", disse. Para Zagalo, "a tática que tem que se jogar hoje é o 4-6-0. Quer dizer que não tem ninguém no ataque? Não, você preencheu com seis homens o meio-campo, roubou a bola e aí vai com tudo. Aí o atacante pode ser o lateral-direito, o meia, seja quem for".
Parreira e Zagalo rejeitaram a idéia de que cinco desses seis homens do meio-campo fossem atacantes, como Romário, Bebeto, Muller, Edmundo e Dener. Segundo Zagalo, "esses jogadores não têm capacidade orgânica para isso". "Poderiam ser esses jogadores se eles tivessem condição. Mas o adversário, em algum momento, vai recuperar a bola. Temos que ir atrás dela. Esses cinco não têm essa característica de recuperação, nem digo marcação. Quem conhece o Romário sabe que ele joga parado. Se eu tivesse cinco jogadores como o Zico, que se movimentava o tempo todo, jogavam os cinco", disse Parreira.
"Se você colocar cinco jogadores como esses, cria-se um buraco no meio-campo e você perde o jogo", completou Zagalo. "Por que não perguntam à Itália, à Alemanha e à Argentina por que não jogam com cinco atacantes?" O técnico citou uma declaração recente de Pelé, nos EUA, que afirmou que em 1970 o Brasil já jogava num 4-5-1. "Pelé disse que ele voltava para ajudar o Gérson no meio-campo. O Rivelino e o Jairzinho eram dois falsos pontas, que vinham de trás. Ficava só o Tostão lá na frente."
Zagalo afirmou que o grupo da seleção ainda não está fechado e que a comissão técnica tem uma lista de 60 jogadores convocáveis para a Copa. Mas Parreira lembrou que a seleção só tem três amistosos, o que não permite muitas mudanças no grupo.

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