São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Acusações não abalaram Lula

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre dezembro (data da pesquisa anterior) e março, o PT viu-se acusado, de um lado, de envolvimento no assassinato do sindicalista Oswaldo Cruz e, de outro, enredou-se em uma crise interna de dupla face: a bancada divergiu da Executiva sobre a participação na revisão constitucional, e um grupo de intelectuais do partido articulou um manifesto de crítica à cúpula.
Nada disso, no entanto, alterou a situação de Lula ante o eleitorado pesquisado pelo Datafolha. Ele se manteve no patamar dos 30% (agora exatos), um ponto a menos do que em dezembro, o que é irrelevante estatisticamente.
Lula apresenta uma distribuição de votos bastante equilibrada em todo o país, diversamente de candidatos como Brizola e ACM. Sua principal base encontra-se hoje no Nordeste, onde alcança 34%, e no Norte/Centro-Oeste, onde tem 33% (na situação 3). Lula é particularmente bem votado em Pernambuco (46%), Ceará (34%) e Rio Grande do Sul (33%). O ponto fraco do partido é, mais uma vez, o Estado de São Paulo, onde o candidato petista alcança 25% (na situação 3).
Lula não caiu, mas também não cresceu. A pesquisa mostra que as "caravanas da cidadania" realizadas pelo PT nos vários Estados não ampliaram o eleitorado do partido, que permanece praticamente idêntico. Além disso, a semente da crise interna permanece latente e tende a ganhar novos contornos à medida em que a discussão sobre quem mandará no governo, se Lula for eleito, for amadurecendo.
Em debate realizado em Santos, no dia 21 passado, o vice-presidente nacional, deputado estadual Ruy Falcão, cabeça mais visível dos grupos tidos como radicais, disse claramente que o mandato de Lula será do partido e não do eleito ou dos eleitores. O deputado federal José Genoino, empurrado para a extrema-direita no heterogêneo caleidoscópio ideológico do PT, contestou na hora: o mandato é, sim, do partido, mas também de Lula e dos eleitores.
Essa tipo de discussão é o que mais alarma o mundo externo ao PT, especialmente o empresariado. Teme-se que uma presença forte da Executiva petista nas discussões sobre o rumo do governo emperre a ação administrativa, como, de resto, está emperrando a participação do PT na revisão constitucional.

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