São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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O preferido que não é

JANIO DE FREITAS

Estão aparecendo nos jornais afirmações de que o ministro Fernando Henrique "é o preferido dos militares" para a sucessão presidencial. É exatamente o oposto do que se ouve de militares que costumam refletir bem a opinião prevalecente na área militar. E não só por causa de vencimentos, não.
Entre os militares não é menor do que nos civis a convicção de que Fernando Henrique deixou a inflação subir, ao longo de nove meses, com todas as consequências graves para a quase totalidade da população, com o propósito de ajustar o cronograma do plano ao seu cronograma político, assim como o próprio teor do plano. E politiquice os militares não costumam digerir. Tanto mais se a vêem como prejudicial ao país.
Inversão
A dada altura da campanha eleitoral de 89, Brizola, que estava ainda em posição privilegiada nas pesquisas, de repente surpreendeu os assessores de maior confiança: "Não vai dar. Vamos chegar ao final eu e o Lula. Vencendo eu, como nós não poderemos governar sozinhos, teremos que governar com o PT. E isso vai criar uma situação incontrolável para nós e para o país. Não é possível governar com o PT, porque os radicais deles não vão deixar, e, mesmo que fosse, o país não está preparado para uma coisa assim. Nem o PDT está. Vamos desacelerar a campanha". Daí por diante, Brizola cancelou comícios, deu o bolo em outros, preservou apenas a aparência de candidatura.
Agora, que está com o prestígio em baixa até no Rio, sua análise é oposta àquela. Acha que Lula já não atrai o entusiasmo de 89 e o PT o prejudicará ainda mais. O PDT, fortalecido em uns dez Estados, pode conquistar nas eleições uma boa base de sustentação política para um governo pedetista. A elite tem candidatos que a representam bem, mas nenhum com penetração popular, nem capaz de obtê-la. E ele, Brizola, é o candidato reconhecido como reformista, com penetração popular e sem o radicalismo petista que assusta a elite e a classe média.
Brizola está otimista. Mas falta explicar como penetraria no antibrizolismo radical de São Paulo, onde estão mais de 20% dos votos totais.
Fique de olho
Diz o assessor de preços do ministro Fernando Henrique, Milton Dallari, que os preços dos remédios, com o acordo firmado entre governo e laboratórios, vão cair 25%.
Se você me permite uma sugestão, exija notas especificando os remédios comprados e guarde-as. No momento adequado, vamos compará-las com os preços convertidos em URV e cobrar os tais 25% de redução, em correspondências para os jornais e para os parlamentares honestos.
O mesmo Dallari, na mesma ocasião, garantiu que os preços dos remédios não têm subido acima da inflação, a não ser, eventualmente, que "um laboratório pequeno e sem expressividade tenha feito algum aumento, mas os grandes cumpriram o acordo (anterior) com o governo".
O Conselho Regional de Farmácia-RJ, que não é constituído por Dallaris, mas por gente séria, constatou que os remédios de uso contínuo subiram, do começo de janeiro ao de março, 120% em média, ou 25 pontos percentuais acima da inflação acumulada nos dois meses (95% pelo IGP-M). Houve numerosos casos acima dos 150% e até de mais do dobro da inflação, como os 195% do hipertensivo Aldactone, do laboratório Glaxo, grande e sempre puxador de aumentos absurdos.
Há muito mais "anões" do que os identificados na Comissão de Orçamento do Congresso.

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