São Paulo, domingo, 6 de março de 1994 |
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Governo vai determinar o uso compulsório da URV
MARISTELA MAFEI
"Não podemos comprar em URV de alguns fornecedores, e em cruzeiros reais de outros. Vai chegar um momento em que a economia se transformará em bagunça, caso a adesão ao novo indexador permaneça livre", justifica Armando Peralta, presidente da Associação Paulista dos Supermercados (Apas). Na última sexta-feira, um grupo de consultores contratos pelos supermercados passou o dia elaborando minuta de sugestão à Fazenda sobre os principais pontos da nova portaria. Os supermercados querem comprar exclusivamente em URV a partir do próximo dia 15, mas deverão continuar vendendo em cruzeiros reais até a adoção do real. A indústria está disposta a vender em URV, mas discorda da metodologia que o varejo pretende utilizar para converter preços. As grandes redes estão realizando a conversão pelo preço efetivamente pago à indústria no dia do vencimento da duplicata. As indústrias aceitam converter o preço à vista da tabela cheia, sem os descontos de praxe. Há divergências em relação à cobrança de juros. Os supermercados entendem que a expectativa de inflação já estará embutida nos valores em URV. A indústria quer acrescentar os juros de captação do dinheiro no mercado financeiro. A nova portaria do ministério da Fazenda, a ser publicada provavelmente na próxima terça-feira, irá estabelecer ainda regras para evitar que a indústria seja acusada, depois, de prática de evasão fiscal. É que, à exceção do Estado de São Paulo, o ICMS é cobrado sobre o preço da mercadoria mais custo financeiro, com base no valor expresso na nota fiscal. Com a introdução da URV, a cobrança de impostos recairia sobre o valor em cruzeiros reais expresso no dia de emissão da nota -e não sobre o valor corrigido no dia efetivo do recebimento do dinheiro. Na expectativa do varejo, o real deverá ser introduzido em um prazo máximo de 30 dias. Por isso existe a pressa de se comprar somente em URV. Existe o receio de que o real possa coincidir com volume expressivo de duplicatas a pagar em cruzeiro real, ocasionando desgaste nas negociações o que poderia comprometer a reposição dos estoques. Embora os supermercadistas façam muito barulho, encaminhando para o governo listas de preços de fornecedores que reajustam valores acima da inflação, atualmente a situação da indústria é bem confortável devido aos baixos estoques disponíveis no varejo. No primeiro bimestre de 94, as vendas dos oligopólios dos setores de alimentação, higiene e limpeza ficaram abaixo do desempenho do ano passado. O comércio preferiu diminuir as compras, embora vendesse normalmente para o consumidor final, na expectativa de que o Plano FHC iria trazer regras para deflacionar preços nas operações entre as empresas. Como isso não ocorreu, qualquer aumento de consumo irá fazer com que o varejo aumente suas compras. Se as vendas continuarem baixas, existe o receio de que os oligópolios prefiram se ajustar através do controle da oferta à diminuir preços. Texto Anterior: Segurança e felicidade Próximo Texto: A grande farsa do combate aos oligopólios Índice |
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