São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Uma lição do passado

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Assumindo que o Plano FHC passe incólume pelo Congresso, a entrada em circulação do real trará importantes alterações na forma como opera nosso mercado financeiro. Estas mudanças vão atingir a maioria dos brasileiros, daqueles que fazem da inflação um modo de vida aos que procuram nas aplicações de curto prazo manter o valor real de seu dinheiro.
Vão também alterar a dinâmica operacional dos intermediários financeiros, das grandes às menores unidades de intermediação. A inflação tem sido o meio de ganhar dinheiro destas instituições.
Para quem não se lembra do ocorrido em 86, no Plano Cruzado, vamos descrever pontos importantes deste novo cenário.
A mais importante destas mudanças no dia-a-dia das pessoas será a remonetização da economia. O dinheiro que usamos para pagar nossas contas vai reaparecer em nossos bolsos e contas bancárias.
A massa de aplicações de curto prazo, investida em FAFs, fundos de commodities e outros, vai voltar aos depósitos à vista dos bancos. Todos vão poder receber seus salários ou pensões em paz, sem a correria que é hoje a busca da moeda estável.
As enormes filas das milhares de agências bancárias também vão sumir. Assim como centenas de agências bancárias vão fechr. Se eu fosse o ministro FHC, anteciparia para agora este sentimento de paz, corrigindo os depósitos nos bancos pela URV.
Outro efeito benéfico da redução da inflação será a eliminação de um confisco na vida financeira de cada um. Hoje, a inflação faz com que uma transferência de dinheiro através de banco de uma cidade para outra, com uma demora de alguns dias, implique redução do valor real do dinheiro enviado. A diferença fica com o banco.
Nos Estados Unidos, a compensação de um cheque entre cidades pode levar mais de cinco dias úteis, sem que o cliente perca dinheiro. Aqui isto corresponderia a uma redução de mais de 10% do valor do dinheiro recebido.
Outra mudança importante será a eliminação quase imediata de toda a dívida em títulos do governo federal, com o término dos leilões quase diários de papéis do governo pelo Banco Central.
O efeito psicológico da conjugação de um governo com Orçamento equilibrado e sem dívida em mercado não será desprezível nos agentes econômicos e na possibilidade de sucesso do Plano FHC. Aliás, esta é mais uma razão para se corrigir já os depósitos à vista dos bancos comerciais.

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