São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Pobreza permanece com a estabilização

DA SUCURSAL DO RIO

A possível estabilização da moeda brasileira com o Plano FHC não reduzirá a pobreza no país. Essa é a análise dos economistas Persio Arida e André Lara Resende no estudo "Inflação Inercial e Reforma Monetária: Brasil", de 1984, que serviu como base teórica para as medidas econômicas adotadas pelo ministro Fernando Henrique Cardoso (Fazenda).
O texto foi publicado na revista do Institute of International Economics, dos Estados Unidos, e publicado em português em uma coletânea de artigos no livro "Inflação Zero", organizado pelo próprio Arida, hoje presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Lara Resende é ex-negociador da dívida externa brasileira.
No documento, os economistas afirmam: "Os salários reais não são afetados pela reforma monetária" (no caso, criação e implantação do real). "Os trabalhadores estarão em melhor situação na medida em que arcam com a maior parte dos custos do imposto inflacionário. Mas a reforma monetária não visa substituir uma política de rendas ou qualquer pacote de políticas voltado a promover maior equidade e justiça social."
Arida e Lara Resende definem quais são os "complementos" à implantação da última fase da reforma monetária (a entrada em circulação do real) mas não os detalham. Esses complementos seriam a "credibilidade do governo, a indepedência das autoridades monetárias às pressões políticas, a visibilidade do orçamento público e corretivos monetários e fiscais".
A tese dos economistas é que a reforma monetária combate apenas a inflação inercial, a memória inflacionária embutida na fixação de preços. Criada a moeda supostamente estável, as causas fundamentais da inflação, os elementos não-inerciais permanecem inalterados e exigem atenção. Os dois pontos citados no estudo são os "déficits fiscais monetizados" (ou seja, o déficit real, não aqueles apenas escriturais) e os "choques de ofertas"(carência de produtos).
A reforma monetária não é o remédio para todos os males, reforçam Arida e Resende. Após o período de convivência entre uma moeda deteriorada (cruzeiro real) e um indexador geral (URV) e a entrada em circulação da nova moeda (o real), surgiria uma economia não-indexada.
"Como a indexação é uma resposta natural para um ambiente inflacionário, a reforma monetária só conseguirá eliminar a indexação se a inflação anterior for predominantemente inercial. Na ausência de inércia, a reforma monetária seria vã e inócua", afirmam os economistas. A inflação então ressurgiria em reais na mesma taxa de inflação anterior à indexação plena, concluem.

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