São Paulo, domingo, 6 de março de 1994 |
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Ainda falta o segundo A pesquisa sobre a sucessão presidencial que esta Folha publica hoje demonstra que, de dezembro a março, o panorama eleitoral apresenta uma estabilidade até surpreendente, ainda mais se se considerar que houve fatos políticos de alguma relevância no período. Entre eles, acentuou-se e ganhou dimensão pública a crise interna no PT, com a polêmica entre sua Executiva e a bancada federal em torno da participação ou não na revisão constitucional e com a articulação de um manifesto de intelectuais do partido criticando a direção. Houve até infundada tentativa de envolver a agremiação no assassinato de um sindicalista. Ainda assim, o virtual candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, ficou exatamente onde estava, com 29% ou 30% das intenções de voto, conforme a situação proposta aos pesquisados. É um primeiro lugar aparentemente cômodo, que pode contudo ser visto também pelo lado negativo para o PT. Se não caiu, Lula tampouco subiu, embora seja o único candidato que se comporta como tal, cruzando o país em sucessivas caravanas. Reforça essa leitura negativa o fato de que se reduziu a vantagem que Lula obteria nas várias simulações de segundo turno. Em contrapartida, ajuda o PT o fato de que não surgiu, nesses quase três meses, nem a segunda via nem a terceira via, expressões criadas no mundo político para designar eventuais alternativas ao candidato do PT (a primeira via). O prefeito paulistano, Paulo Maluf (PPR), e o deputado Antônio Britto (PMDB-RS), que empatam estatisticamente no segundo lugar, conseguem na melhor das hipóteses 14% das intenções de voto, menos da metade do pior resultado obtido por Lula. Permanece, por ora, um cenário em que é preciso somar as intenções de voto em três candidatos para ultrapassar Lula. Mesmo o ministro Fernando Henrique Cardoso (PSDB), apesar da forte exposição à mídia decorrente da perspectiva de anúncio do novo plano econômico, manteve-se mais ou menos estável, atingindo no máximo 11%. Convém notar, porém, que a pesquisa não capta plenamente os efeitos (positivos ou negativos) do anúncio da URV, que começou a ser feito na tarde de segunda-feira, quando a sondagem já se encontrava em andamento. Em todo caso, a pesquisa permite intuir que uma eventual coligação entre o PSDB, o PFL, dissidentes do PMDB, como Britto, e partidos menores tenderia a aumentar muito as chances, já no primeiro turno, do candidato dessa eventual aliança, criando dificuldades para Lula. A soma das intenções de voto em FHC, ACM e Britto chega a 27%, na única situação pesquisada em que os três figuram juntos. Ou seja, fica muito perto dos 30% de Lula nessa situação. Mas isso não quer dizer necessariamente que um candidato único apoiado por esses três nomes de partidos diferentes vá recolher todos os votos que o eleitorado daria a cada um deles separadamente. Transferência de votos é um fenômeno complexo. Pode até ocorrer perda de votos em função do apoio de um determinado líder político a outro, com o qual a afinidade política seja reduzida. Exemplo concreto: o peessedebista baiano Jutahy Magalhães Jr. ameaça votar em Lula e levar seus correligionários a fazer o mesmo, se o PSDB fizer acordo com o PFL de ACM, adversário figadal de Jutahy. Bem feitas as contas, portanto, a indefinição do cenário eleitoral é, hoje, ainda muito grande, o que não deixa de ser natural. Afinal, não há sequer uma candidatura oficializada, já que o prazo para tanto nem se abriu ainda. O único elemento concreto que a pesquisa mostra é o mesmo de antes: a liderança por ora indisputada de Luiz Inácio Lula da Silva. Texto Anterior: Adesão com tensão Próximo Texto: Temo que não dê certo Índice |
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