São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Vale tudo

MARCELO BERABA

SÀO PAULO – Para os virtuais candidatos a qualquer cargo que já exercem funções executivas a eleição de novembro já começou. Meia hora diante da TV demonstra que nenhum deles pretende esperar agosto, quando se inicia o horário gratuito, para fazer propaganda eleitoral.
A diferença é que agora, por conta das restrições legais, a propaganda (ainda) é um pouco dissimulada. Digo dissimulada porque, no ritmo que vai e sem qualquer interferência do Tribunal Superior Eleitoral e nem dos tribunais regionais, em breve será feita sem pejo.
Neste final de semana, em São Paulo, os telespectadores foram bombardeados por peças políticas disfarçadas de divulgação de serviço público veiculadas tanto pelo governo do Estado (Fleury) como pela Prefeitura (Maluf).
Um dos anúncios, da Companhia Energética de São Paulo, chega a anunciar não a conclusão de uma nova hidrelétrica, mas o cumprimento de um cronograma de obras!
Estive em Salvador nos últimos dez dias de janeiro e pude comprovar que o governador Antônio Carlos Magalhães não brinca em serviço. Ele tinha acabado de inagurar uma avenida em Ilhéus e preparou uma peça de promoção política tão explícita que a única pergunta possível de ser feita após assisti-la era a seguinte: o que estão fazendo o TRE e o Tribunal de Contas da Bahia? Não há qualquer preocupação em dissicular o caráter promocional da peça.
Talvez seja esta a idéia de transparência que nossos políticos começam a adotar.
Citei ACM, Maluf e Fleury porque foi os que assisti. Imagino que, Brasil afora, vários governadores e prefeitos já estão em campanha aberta usando o dinheiro público e a máquina administrativa para isso.
Não acredito que os tribunais eleitorais venham a impor qualquer restrição à publicidade indevida, apesar de ilegal.
Mas este questionamento pode ser feito pelos comitês apartidários que se multiplicam pelo país no rastro de movimentos sociais como o Comitê da Cidadania e o Viva Rio. Desta fiscalização pode surgir nova maneira de se acompanhar e de se fazer política.

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