São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
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FHC & ACM

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – Depois de dedicar-se a arremessar cocos contra a cabeça e o plano econômico de Fernando Henrique Cardoso, o governador Antônio Carlos Magalhães estampa nos lábios o sorriso de aeromoça que atribuíra a seu ex-adversário e declara que a aproximação entre os tucanos e o pefelê não é mais do que o desdobramento de um "antigo namoro".
Que gracioso.
Que enternecedor.
O rei da Bahia, como se sabe, nunca teve maiores problemas com essa refinada técnica, largamente desenvolvida na política brasileira, de mudar de opinião para não sair do lugar. E o lugar de seu partido, como se sabe, é o poder, seja ele qual for: "Se hay gobierno, soy a favor", deveria ser a divisa da agremiação.
Não menos tocante é o pragmatismo do PSDB de FHC, que caminha célere e impávido para assumir o papel de PMDB da nova fase da política brasileira, abrindo os braços para o dr. Aureliano e insinuando-se para o "centrão" coordenado pelo PFL.
A aliança que se insinua é mais um episódio a reafirmar extrema dificuldade de se erigir no Brasil um sistema partidário cujas peças correspondam a demandas sociais identificáveis e que se mantenham minimamente fiéis a suas teses e propósitos.
É evidente que faz parte do jogo democrático a organização de alianças e que elas supõem um grau de diferenças e divergências a ser minimizado por um programa comum, que atenda satisfatoriamente as metas principais das duas partes.
Quando se pensa, no entanto, nas figuras históricas de Fernando Henrique Cardoso e Antônio Carlos Magalhães, o que vem à mente não é uma polaridade intercalada por divergências facilmente superáveis. Temos um homem que aderiu e outro que foi perseguido pelo regime militar; temos um exemplo acabado da figura pública tradicional do Nordeste e um crítico refinado do arcaísmo político brasileiro; temos um velho cacique do populismo autoritário e um político com formação intelectual e propostas modernizantes.
Quer dizer... será que temos mesmo?

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