São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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Morador desapropriado vai para a Itália

DA REPORTAGEM LOCAL

O italiano Luigi Cestari, 69, dono do imóvel que recebeu a notificação anteontem, já decidiu. Vai voltar para a pequena cidade de Montesano Sulla Marcellana, província de Salerno (160 km ao sul de Napoles). "O Brasil está com muitos bandidos nas ruas e agora querem levar a minha casa", diz.
É a segunda vez que Cestari é vítima da Faria Lima. Em 1972, com a criação da avenida, a prefeitura desapropriou o prédio onde morava e trabalhava –um depósito de distribuição de frutas, que pertencia ao seu tio. Até hoje ele guarda um recorte de jornal contando o drama da desapropriação.
Foi morar então no pequeno sobrado da rua Cunha Gago, que havia adquirido em 1961, sete anos após chegar ao Brasil. Cestari está revoltado com o valor venal depositado (CR$ 5.013.933,13), o equivalente, ontem, a US$ 6.330,00. "É um absurdo. Quero US$ 70 mil. Vou questionar na Justiça até o fim", diz Luigi.
A casa, segundo a notificação, tem 58,72 metros quadrados de área construída e inclui dois pequenos terraços, dois quartos, uma sala, cozinha, banheiro e um pequeno quintal.
Em seus 41 anos de Brasil, Cestari, que é solteiro, conseguiu dinheiro suficiente para comprar dois imóveis que mantém alugados: a agência do Banco do Brasil, na avenida Francisco Morato, em Caxingui (zona oeste), e um armazém em Itaberaba (zona oeste).
"Vou para a Itália porque lá eu tenho casa, família, dinheiro e vida tranquila", afirma.
A chegada da primeira notificação aumentou o clima de insegurança entre os moradores de Pinheiros. Isso porque muitos começaram a receber ontem as cartelas de IPTU (Imposto Territorial e Predial Urbano), com o novo valor venal. Na rua Coropés, algumas casas exibiam faixas como "Esta casa é minha há 43 anos. Vou lutar por ela" ou "Sr. prefeito por favor, deixe Pinheiros como está. Não destrua nossa tradição –principalmente nossa casa de mais de 40 anos".
"Há muitas pessoas idosas, que estão apavoradas. Não sabem como agir", disse a artista plástica Cleo Mendes, 64, cuja casa na rua Miguel Isasa está na lista de desapropriação.

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