São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Pré-candidatos iniciam contagem regressiva

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Faltam exatas duas semanas para que comece de fato a corrida eleitoral. Até o dia 2 de abril, a data fatal para que deixem seus cargos os ocupantes de postos executivos que querem disputar o pleito, a quantidade de nebulosas que cerca a eleição é grande demais e atrapalha todos os cálculos.
A partir de 2 de abril, tem-se o momento que o presidente Itamar Franco definiu como vê-zero, que em física designa a velocidade inicial. Até lá, é uma agônica contagem regressiva, que envolve não apenas os concorrentes potenciais que estão no Executivo e, por isso, dependem dessa data, mas também os que, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Orestes Quércia (PMDB), não precisam aguardar o 2 de abril para se lançarem. Precisam, no entanto, saber contra quem, exatamente, vão concorrer.
A contagem regressiva aparentemente já derrotou um dos potenciais candidatos, o governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho. Lançado como arma para desestabilizar a candidatura Quércia, Fleury negou-se a ser "instrumentalizado", como diz, contra seu padrinho político. Preferiu fazer uma espécie de contagem de cabeças para ver quem o apoiava de verdade e quem era apenas contra Quércia. Percebeu que eram mais os antiquercistas do que os fleuryzistas de carteirinha.
A atração maior da contagem regressiva continua sendo o ministro Fernando Henrique Cardoso, que ficou meditando em Nova York, depois de negociar a dívida externa com o FMI, o Tesouro norte-americano e os bancos privados. Levou a mulher, a antropóloga Ruth Cardoso. Supõe-se que vá consultá-la sobre a disposição mental para enfrentar uma campanha que outro "presidenciável", Paulo Maluf (PPR), define antecipadamente como "pesada".
O dilema do ministro é, de alguma forma, resumido assim por seu amigo pessoal Sérgio Motta, secretário-geral do PSDB: "Com a introdução do real, a inflação cairá em outubro para no máximo 4% a 5%. Nessas circunstâncias, o Fernando elege até um poste. O problema é que falta o poste". À falta de outro, o poste pode levar a sigla FHC mesmo.
O outro grande suspense tem sede no Parque Dom Pedro, centro de São Paulo, sede da prefeitura paulistana, ocupada por Paulo Maluf. Seus amigos mais próximos dizem que ele não se decidiu ainda a ser candidato. Ele próprio diz o contrário. É candidato, sim.
Tão candidato que fez todos os cálculos a respeito da melhor data para formalizar o anúncio. Afastou o 2 de abril, por ser sábado e não circular o "Diário Oficial", que publicaria a sua renúncia. Dia 1º de abril não é uma data séria para qualquer anúncio. Dia 31 de março criaria um vínculo com o movimento militar de 1964, que Maluf prefere ver esquecido. Dia 30, idem, porque a notícia sairia no dia 31. Sobram portanto 29 e 28 de março.
Três outros governadores, tidos como presidenciáveis, já se decidiram a deixar os cargos, mas em situações diferentes. O da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, sai porque pode disputar tanto a Presidência como o Senado (o seu preferido, menos por escolha própria e mais por saber que suas chances na disputa maior são relativamente reduzidas).
O do Rio, Leonel Brizola, de certa forma, tem idêntica possibilidade de escolha. Mas sua idade e carreira políticas indicam que disputará mesmo a Presidência, até porque o PDT não tem alternativa. Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, que chegou a ser cogitado, agora está com dificuldades, nas pesquisas, até para se eleger governador do Paraná. Tentar um salto maior soaria a aventura.
Por fim, Roberto Requião (PR), vai, primeiro, para uma disputa prévia. Disputa a convenção de seu partido, o PMDB, contra Orestes Quércia, de quem se tornou um inimigo figadal.
Sem a pressão da data fatal, o ex-presidente José Sarney (PMDB) viajou para Paris, mas deixou um recado cinematográfico ("não se esqueçam de mim"), na forma da divulgação de pesquisa que o coloca no segundo lugar, empatado com FHC e atrás apenas de Lula.

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