São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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"Vendor" perde o brilho com a criação da URV e espera pelo real

DA REPORTAGEM LOCAL

O sucesso do "vendor" não sobreviveu ao programa econômico. O vendor, linha de financiamento dos bancos que ganhou a adesão dos grupos econômicos por representar economia no pagamento de impostos, cresceu rápido, mas travou depois da URV (Unidade Real de Valor) e a expectativa de criação do real. Além disso, boa parte do varejo, principalmente de vestuário, formou estoque com esse crédito. Animados, compraram demais, e agora estão pedindo prorrogação do prazo de vencimento.
Em janeiro de 1993, as operações de "vendor" formavam um ativo de US$ 600 milhões nos bancos. Passaram a US$ 1,2 bilhão um ano depois. No mês passado, o volume aumentou para US$ 1,4 bilhão. O ritmo de evolução é resultado direto da inflação. O principal apelo do produto é a economia fiscal. Até sexta-feira passada, se um industrial vendesse para o varejo a prazo, tinha de pagar IPI e ICMS sobre o total da nota fiscal, incluindo o valor do bem mais o custo financeiro.
O banco resolveu o problema com o "vendor". Quem paga ao industrial é o banco e os compradores ficam devendo para a instituição. A empresa recebia à vista e por isso pagava menos imposto.
"O 'vendor' reúne o atendimento de uma série de interesses", explica Sérgio de Freitas, vice-presidente corporativo do Banco Itaú. "Nesta fase transitória, porém, perde atrativos." A alavanca do sucesso do "vendor" junto aos compradores foi a conquista de mais prazo, pois o banco oferecia até 90 dias. O financiamento da instituição era obtido, basicamente, pelos CDBs de 90 dias corrigidos pela TR.
Surgiu aí a primeira dificuldade de adaptação à URV. Os bancos e investidores abandonaram a modalidade de investimento. A quantidade de dinheiro para financiar a operação se reduziu. "Temos, ainda, meios de buscar recursos em dólar para financiar o 'vendor"', conta José Olavo Siqueira, diretor do Unibanco. Outra forma de captar recursos é o CDB prefixado, mas, neste caso, o prazo se reduz e perde-se importante argumento de venda do produto.
Juntos, esses instrumentos de captação não respondem pelo corte da principal fonte de recursos, os CDBs em TR. A perspectiva de criação do real provocou a expectativa de que a inflação vai cair. Isso também tirou o interesse de quem operava o "vendor" para ganhar com a economia fiscal.
"Devemos sentir uma redução de demanda forte pelo produto a partir de agora", diz Siqueira. "Além dos problemas de captação de recursos, as empresas que tiveram apenas a motivação tributária para operar o 'vendor' vão parar." As indústrias aumentaram as vendas utilizando-se das linhas de vendor oferecidas pelos bancos na virada do ano. Os bancos não contavam, porém, com planejamento empresarial deficiente. Segundo Jorge Hamuche, presidente do Sindicato dos Atacadistas de Confecções, houve excesso de compras.
Segundo Sérgio de Freitas, o vendor sofrerá alguns ajustes. "O vendor vai continuar tendo seu espaço no mercado", afirma. "Este é um mecanismo automático de venda a prazo e fornece capital de giro rápido. São elementos importantes para manter o 'vendor' no mercado." (Nilton Horita)

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