São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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BC estuda alternativas para a transição

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central (BC) estuda dois caminhos para fazer a transição das aplicações financeiras para a nova moeda. Em ambos não será necessária a famigerada tablita.
No primeiro, o Banco Central, com antecedência, sinalizaria a taxa de juros que pretende praticar quando estiver em circulação a nova moeda, o real.
Neste caso, é óbvio, a sinalização da taxa de juros será posterior ao anúncio do dia em que o real, a chamada fase três do Plano FHC, passará a circular.
O Banco Central pode sinalizar o juro de várias formas. Uma é vender títulos indexados à URV que venceriam depois da entrada do real.
Outra forma de se fazer a transição seria atuar no overnight dos bancos explicitando a taxa que será praticada mais na frente.
Há consenso no mercado financeiro de que a trajetória do juro nominal será para baixo. É que a inflação vai sofrer uma queda abrupta quando entrar em vigor o real. O número mais falado de inflação para o primeiro mês do real é de 2%.
Risco
O risco de se seguir este caminho é o de criar expectativas erradas no mercado tanto quanto ao tamanho do juro real (o que ficará acima da inflação) como ao tamanho da própria inflação. Se isto acontecer, o Banco Central ficaria refém. É o desafio ao presidente do BC, Pedro Malan, e sua equipe.
Um segundo caminho, já aberto pela medida provisória 434, é simplesmente atrelar a TR ao CDI (depósitos interfinanceiros). O CDI é um mercado de títulos negociado dia-a-dia. Quando vier o real, com sua inflação mais baixa, o juro do CDI vai sofrer de imediato uma queda nominal abrupta. Logo, a TR também sofreria esta queda.
O problema é que a caderneta de poupança, nesta hipótese, deixaria de ter a característica atual –o investidor sabe dois dias após o depósito ou aniversário qual será sua rentabilidade futura. A poupança voltaria a ser uma aplicação com rendimento pós-fixado.
Outro aspecto do problema é que muitos analistas, como o ex- presidente do Banco Central Ibrahim Eris, defendem que a taxa de juros flutue quando for criado o real.
A idéia seria impedir que o juro virasse um novo indexador para a economia. Esta flutuação, que se refletiria no CDI, aumentaria os riscos para o aplicador.
Outro problema é que o juro do CDI pode ficar muito sujeito a flutuações que nada têm a ver com política monetária.
É que o recolhimento de impostos e os gastos do Tesouro têm um impacto enorme nas reservas bancárias e, portanto, na liquidez do sistema financeiro.

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