São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Padre italiano é morto a bala dentro da igreja

Sacerdote que combatia a máfia napolitana levou 2 tiros

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O padre Giuseppe Diana, conhecido por seu combate à máfia napolitana –a Camorra– foi assassinado ontem perto de Caserta, na região de Nápoles (sul da Itália). O sacerdote de 36 anos recebeu dois tiros na cabeça no momento em que estava na sacristia se preparando para rezar a missa em homenagem ao santo de sua igreja. Foi o quinto assassinato na região em menos de 48 horas.
Segundo a reconstituição do crime, uma ou duas pessoas invadiram a sacristia por volta das 4h (hora de Brasília) e dispararam os dois tiros à queima-roupa. Ao ouvir os disparos, um homem entrou na sacristia: o cadáver do sacerdote estava estendido no chão.
"Quiseram golpear tudo o que há de mais sagrado para os homens e para a igreja. Dispararam na paróquia, à queima-roupa, no dia do seu santo. Estávamos preparando a torta e o vinho espumante para celebrá-lo. Agora tudo é inútil", disse em lágrimas o sobrinho do sacerdote, Marco Corvino, 20.
Diana era responsável pela igreja de São Nicolau de Bari, uma das três paróquias de Casal di Principe –pequena aldeia da Caserta onde a Camorra é bastante ativa. A Caserta é uma das cinco províncias da região de Campania, cuja capital é Nápoles.
O pároco se ocupava sobretudo com a defesa de pobres e imigrantes vindos do Terceiro Mundo. Em 1992, Diana promoveu uma campanha entre os párocos das zonas de maior influência da Camorra. Em um documento divulgado em sua paróquia, ele havia conclamado seus fiéis a lutar contra o crime organizado. Recentemente, Diana teria denunciado às autoridades a pressão exercida pela Camorra nas eleições locais.
Se for confirmada a participação da máfia no seu assassinato, Diana será o segundo sacerdote morto por mafiosos em seis meses. O primeiro foi Giuseppe Pugliesi, de uma paróquia pobre de Palermo (Sicília), que a máfia matou em 15 de setembro do ano passado.
O "capo" da Camorra, Carmine Alfieri, escreveu ontem na prisão uma carta aos juízes, em que se diz arrependido. Ele afirma que é preciso começar a Itália de novo e reconhece "ter arruinado uma geração de jovens".
Ainda ontem, a polícia italiana deteve os juízes Antonio La Torre, ex-presidente do tribunal de Messina, e Francisco Mancuso. Eles são suspeitos de colaboração com a máfia. Há acusações formais de corrupção e de favorecimento à concessão de benefícios aos mafiosos encarcerados.

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