São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Conflito entre Malásia e Londres abre vácuo

RENATO MARTINS
DA REDAÇÃO

A imprensa britânica não fazia mais do que cumprir sua obrigação, em fevereiro, ao relatar supostas propinas pagas por empresas do Reino Unido a políticos da Malásia. O resultado foi uma retaliação do governo malasiano contra empresas britânicas que fazem negócios com o país que poderá beneficiar companhias brasileiras.
Em 20 de fevereiro, o "Sunday Times" disse que a construtora britânica George Wimpey International fez "pagamentos especiais" de US$ 50 mil a "políticos da Malásia" e sugeriu que um deles seria o primeiro-ministro Datuk Seri Mahathir Mohamad. Três dias depois, o governo malasiano vetou qualquer novo contrato com empresas britânicas. O vice-premiê Anwar Ibrahim disse que isso causaria prejuízos de US$ 6 bilhões a empresas do Reino Unido ao longo dos próximos seis anos.
A polêmica começou em dezembro, quando jornais londrinos revelaram que em 1988 o Reino Unido havia condicionado a concessão de ajuda econômica à Malásia à aquisição de armamentos britânicos por Kuala Lumpur –que em seguida comprou duas fragatas da GEC-Yarrow e 28 caças-bombardeios Hawk, além de mísseis e radares da Marconi. O Parlamento britânico confirmou essa informação, cuja divulgação irritou o governo da Malásia.
Revelou-se depois que US$ 230 milhões daquela ajuda foram desviados pelo governo de Kuala Lumpur para a construção da barragem de Pergau, uma hidrelétrica de 600 megawatts no Estado de Kelantan (costa leste) que Londres havia se recusado a financiar, por julgá-la antieconômica. Foi aí que o "Sunday Times" revelou as supostas propinas, num imbroglio pouco ético que envolveria políticos dos dois países, a indústria de armas e construtoras britânicas.
Andrew Neil, editor do "Sunday Times", disse que a imprensa do Reino Unido "não pode ser responsabilizada pelas ações de um líder autoritário, com preconceitos antibritânicos, que quer que o governo britânico controle a imprensa britânica da mesma maneira como ele controla sua própria imprensa". Políticos de oposição na Malásia têm dito que por trás da reação de Mahathir pode estar uma tentativa de impedir que a acusação de suborno seja investigada.
Os primeiros contratos que os britânicos devem perder são relativos à construção do novo aeroporto de Kuala Lumpur. Segundo a "Far Eastern Economic Review", um consórcio nipo-britânico ganhou a concorrência para o projeto, no valor estimado de US$ 3 bilhões, e a Balfour Beatty faria uma parte das obras de terraplenagem.
Construtoras brasileiras com experiência internacional teriam condições de aproveitar esse vácuo. Segundo o Itamaraty, a embaixada do Brasil em Kuala Lumpur não tem no momento um adido comercial. A Secretaria Comercial da embaixada se recusou a fazer qualquer comentário. O Itamaraty está preparando uma missão de empresários brasileiros para visitar Malásia, Cingapura e Vietnã em abril.
A assessoria de imprensa da Odebrecht disse à Folha que o grupo não tem planos imediatos para investir na Malásia, embora sua subsidiária Tenenge opere na região, com base em Cingapura, e tenha interesse em conseguir contratos no país vizinho. A assessoria da Mendes Júnior manifestou desconhecimento sobre a questão.

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