São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Sérvios impõem condições para paz

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Líderes sérvios da Bósnia-Herzegóvina afirmaram ontem que podem se integrar ao tratado de união assinado por croatas e muçulmanos se forem retiradas as sanções comerciais contra a Sérvia. O presidente da Croácia, Franjo Tudjman, afirmou que os sérvios poderiam se unir à federação croata-muçulmana como uma medida temporária. Croatas e muçulmanos começaram a trocar prisioneiros, em consequência do acordo.
"Estamos prontos para assinar um acordo de paz a qualquer hora, mas esperamos que os três lados sejam tratados igualmente, o que inclui a retirada das sanções comerciais", disse o líder sérvio na Bósnia, Radovan Karadzic. A ONU impôs há dois anos sanções comerciais à Iugoslávia (que reúne hoje apenas Sérvia e Montenegro), pelo apoio aos sérvios da Bósnia na guerra civil contra croatas e muçulmanos.
Um assessor de Karadzic, Momcilo Krajisnik, reiterou que a abertura do aeroporto de Tuzla –encrave muçulmano na Bósnia, em mãos sérvias– está condicionada à presença de oficiais sérvios e observadores russos. Karadzic havia feito a oferta de abrir o aeroporto em Moscou este mês.
Embora o líder sérvio tenha considerado algum tipo de vinculação à federação croata-muçulmana estabelecida em Washington na sexta-feira, os sérvios da Bósnia não escondem a intenção de se unir à Sérvia. Eles controlam 70% do território bósnio. Admitem ceder até 20% dessa área, mas recusam fornecer um acesso ao mar para os muçulmanos.
"O 'x' da questão será provavelmente se os sérvios serão capazes de, temporariamente, em período de transição, estabelecer uma frágil união com a federação croata-muçulmana", afirmou o croata Tudjman em uma entrevista. Ele também disse que poderia apoiar a retirada das sanções da ONU se os sérvios desistissem das pretensões territoriais à região da Krajina, encrave na Croácia que se autoproclamou "república sérvia".
A Krajina, cerca de um terço do território croata, foi tomada pelos sérvios que se opunham à separação da Croácia da Iugoslávia, em 1991. Apesar dos 14 mil soldados da ONU na região, continuam os choques entre sérvios e croatas. A Croácia insiste que as Nações Unidas desarmem os sérvios.
O secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, disse que as sanções comerciais à Iugoslávia deveriam continuar até ser atingida a paz na Bósnia e na região da Krajina. Conversações de paz para o encrave começam em Zagreb (capital da Croácia) na terça-feira, sob patrocínio da Rússia.
Os croatas e muçulmanos da Bósnia começaram ontem a libertar um total de 864 presos. Em Rodoc (perto de Mostar, sul da Bósnia), cerca de 500 muçulmanos foram soltos pelas forças croatas da Bósnia. Os muçulmanos libertaram, por sua vez, 70 croatas perto de Mostar e 200 perto de Bugojno. Bihac (norte) continuou ontem a ser atacada por Sérvios.

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