São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Definições e dúvidas

A duas semanas do prazo final para a desincompatibilização de candidatos que ocupam postos no Executivo, restam ainda três importantes definições, que determinarão o panorama da sucessão presidencial. Trata-se, pela ordem de colocação nas pesquisas de intenção de voto, do prefeito da cidade de São Paulo, Paulo Maluf, do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e do governador do Estado do Rio de Janeiro, Leonel Brizola.
Em princípio todos os três devem sair candidatos, mas todos eles encontram fortes argumentos contra sua desincompatibilização. Maluf, por exemplo, só teria exercido 15 dos 48 meses de um mandato que ele prometeu solenemente cumprir até o último dia. Fernando Henrique também poderia ser acusado de abandonar seu plano econômico antes mesmo de consolidá-lo. Já Brizola enfrenta uma forte onda de impopularidade em seu Estado e principal reduto eleitoral, no qual a sua administração obtém um inédito índice de rejeição de 52%.
Ainda assim, parece difícil acreditar que esses argumentos possam intimidá-los, dada a atual fragilidade do quadro sucessório. É bem verdade que o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, desponta nas pesquisas com 30% das intenções de voto, mais que o dobro de Maluf, o segundo colocado. Mas é igualmente verdade que o candidato do PT parece não ter fôlego para vencer já no primeiro turno e a segunda etapa será certamente uma outra eleição. Lula tem um alto índice de rejeição e aquele que conseguir passar para o segundo turno com ele tem chances de derrotá-lo.
A corrida, portanto, é para ver quem consegue chegar à segunda etapa com o candidato petista. Num cenário em que disputem Lula, Maluf, Fernando Henrique e Quércia, todos com base em São Paulo, a tendência é o voto paulista anular-se, beneficiando candidatos com maior penetração nacional. No caso, Lula e Fernando Henrique Cardoso. Isso, é claro, se o plano econômico do ministro apresentar os resultados esperados.
Um outro fator que pode alterar substancialmente o quadro é a eventual aliança PSDB-PFL. Em primeiro lugar, sai ferido Paulo Maluf, pois perderia a chance de aliar-se ao partido que lhe é ideologicamente mais afim. Já os efeitos sobre a candidatura de Fernando Henrique Cardoso são imprevisíveis. De um lado, a aliança tende a dar-lhe os votos de parte do PFL –há setores que não o apoiariam. De outro, o ministro tende a perder eleitores de centro-esquerda que não vêem o acordo com bons olhos.
Enfim, se nas duas próximas semanas haverá algumas definições, permanece ainda uma série de incógnitas e variáveis –como as convenções partidárias que escolherão os candidatos, o sucesso do plano e possíveis acidentes de percurso–, que vão realmente determinar quem será o próximo presidente e, portanto, definir como será o Brasil pelos próximos quatro anos.

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