São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Ora a lei

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso deve estar muito cansado. Antes conseguia evitar qualquer comprometimento, nas entrevistas. Agora, é abrir a boca e sai besteira. Como na semana passada, quando foi falar sobre o salário dos deputados e admitiu que está segurando os salários em geral. Foi a primeira vez em que citou o arrocho.
Ontem, FHC não estava melhor. Talvez pela exaustão da viagem e da negociação em Washington, o ministro sequer parecia o mesmo. Não parecia o democrata de antes, com certeza. Uma declaração de FHC, apresentada nos telejornais de domingo, seria bem difícil de ouvir do antigo intelectual, um exilado do regime militar.
Ele falava do aumento decidido no Poder Judiciário e da dúvida de repassar ou não os recursos para fazer o pagamento: "Eu tenho que cumprir a lei, mas eu cumpro a lei nos limites do interesse nacional. O presidente disse isso, na nota que fez. Eu acho que os militares, nessa matéria, eles têm tido compreensão, no momento."
A declaração inteira é um equívoco. Primeiro, quando afirma que só cumpre a lei "nos limites do interesse nacional", repetindo o discurso das ditaduras. Em seguida, ao dar-se conta da violência de sua frase e tentar jogar a culpa no presidente. Por fim, ao citar os militares e encerrar com o agourento "no momento".
Resistência
Apesar do imenso escândalo que foi o aumento do Legislativo, agora o problema é mesmo entre o Executivo e o Judiciário. Ou melhor, entre os ministros militares e os ministros do Supremo. "O Judiciário está resistindo', anunciava ontem o Fantástico, usando uma imagem de conflito armado, bastante apropriada para o momento.
Há um "impasse", insistiu o Fantástico, porque os ministros do Supremo mandaram rodar a folha de pagamento do Poder Judiciário, mas "o governo já avisou que não vai repassar o dinheiro". A semana, avisou então o Jornal da Cultura, fez prever desde já uma "batalha jurídica", em outra imagem apropriada.
Na batalha, o Poder Executivo já ganha aliados, como o petista Dalmo Dallari, que declarou não ser constitucional o aumento decidido pelo Supremo, e o conservador Ives Gandra, que até deu a desculpa. É só dizer que não tem dinheiro.

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