São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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FHC apóia não pagar "sabotadores"

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, apóia a decisão do presidente Itamar Franco de não pagar os aumentos salariais autoconcedidos pelo Legislativo e o Judiciário na semana passada.
Ao chegar ontem a São Paulo depois de quatro dias nos EUA, onde obteve o apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional) e dos bancos credores para o plano de estabilização econômica, FHC criticou os membros do Legislativo e Judiciário.
"No momento em que estamos fazendo um esforço para reerguer a cabeça do Brasil lá fora, para deixarmos de ser o patinho feio da comunidade financeira internacional, aqui dentro as pessoas não entenderem que falta pouco para organizar o Brasil e cada um atirar para um lado não está certo", afirmou.
Para FHC, o presidente Itamar está agindo corretamente em defesa do interesse nacional. "Fico do lado do presidente e do interesse nacional e contra essas pessoas que querem sabotar o Brasil", afirmou em entrevista depois de desembarcar às 6h45, no aeroporto internacional de Guarulhos.
O ministro FHC disse, porém, que a questão dos aumentos salariais privilegiados não justifica o manifesto do "Grupo Guararapes" de oficiais militares da reserva que pede o fechamento do Congresso, a substituição dos atuais membros do Judiciário, inclusive do Supremo Tribunal Federal e a convocação de eleições em 60 dias.
"Acredito que isso não passa pela cabeça de nenhum militar responsável", afirmou. "A atitude inconsequente e incorreta dos poderes Legislativo e Judiciário na questão dos salários não pode servir de pretexto para um golpe de Estado ou de crítica ao funcionamento da democracia", afirmou.
"A decepção que o Congresso está causando não é em termos da instituição democrática, e sim das decisões de seus integrantes que, às vezes, não correspondem ao pensamento do país", disse.
Dívida externa
O ministro FHC disse o país fechou o acordo da dívida sem submeter metas econômicas ao FMI, porque não queria fazer mais uma carta de intenções para não ser cumprida depois. "Nós acabamos com a questão da dívida externa, já é uma página virada", afirmou. "Deixa agora de existir o risco Brasil."
Inflação
O ministro FHC disse que a introdução da nova moeda, o real, vai permitir a deflação (queda de preços). E não está preocupado com as estimativas de alta da inflação este mês. Segundo FHC, a fase da URV (Unidade Real de Valor) não foi concebida para o controle da inflação, mas sim para a renegociação dos contratos.
Ele atribui o aumento da inflação detectado pelos institutos de pesquisa à forte especulação de empresários que, disse, "vão cair lá em baixo no abismo" da deflação que vai vir com o real.
O ministro reiterou que vai continuar reduzindo alíquotas do Imposto de Importação para combater aumentos de preços considerados abusivos pelo governo.
Ele disse que o governo vai continuar negociando com os oligopólios para que a conversão dos preços seja pela média dos últimos quatro meses do ano passado.
O governo não vai intervir nas negociações entre o varejo, fornecedores e distribuidores. "Eles têm que passar por um processo de aprendizado", afirmou FHC.
O ministro descartou a hipótese de o governo adotar o tabelamento de juros. "Isso não funciona numa sociedade aberta." Para ele, a taxa de juro vai cair como resultado do acerto com os credores externos, "que aumentará a oferta de recursos para o país".
Candidatura
Fernando Henrique disse que só vai decidir entre a candidatura à Presidência da República e a permanência no Ministério da Fazenda quando estiver "convencido" de qual é o melhor caminho para ele e para o país.
Ele disse que no momento tem "bons argumentos" tanto para sair candidato quanto para ficar no governo. Se for candidato, não vai ser "anti-nada", porque não tem cabimento ser anti-coisa alguma. "Se achar que é possível ser candidato, quem sabe não vou pedir o apoio do PT", disse.
Revisão constitucional
O ministro da Fazenda criticou a indecisão dos congressistas com relação ao andamento e conclusão da revisão constitucional. Para ele, a ameaça de interrupção dos trabalhos é um fato "grave".
Ele disse que os trabalhos do Congresso revisor concluídos até agora estão deixando o país "capenga". Na sua opinião, não tem sentido encurtar o mandato do presidente da República para quatro anos e não aprovar a reeleição.

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