São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994 |
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Cardeal quer continuar trabalho em prisões
PAULO MOTA
* Folha - Qual a reflexão que o sr. faz sobre o episódio ocorrido no instituto penal? Dom Aloísio Lorscheider - Torna-se cada vez mais imperiosa a mudança do modo de tratar os presos e reintegrá-los na sociedade. Tudo o que aconteceu é eco da violência que os presidiários costumam sofrer em nossos presídios. Isto aguça-lhes mais ainda o sentido e a ânsia da liberdade. Foi um gesto de desespero. Folha - O que o sr. acha de o governador Ciro Gomes ter dado armas para os fugitivos? Lorscheider - O fornecimento de algumas armas foi exigência sine qua non deles para respeitar a vida dos reféns. Se o governador não tivesse cedido, todos nós reféns teríamos sido mortos e eles mesmos teriam se suicidado. As pressões eram fortes para que o governador mandasse a polícia simplesmente invadir e salve-se quem puder. Teria sido certamente o pior. De dois males, o governador escolheu o menor e o mais conforme aos autênticos sentimentos humanos e cristãos. Folha - O sr. concorda com aqueles que dizem que o episódio serviu para mostrar que o trabalho pastoral junto a presidiários deve ser abandonado? Lorscheider - Impossível concordar. Não continuar com este trabalho iria se constituir em covardia sem nome. Por tão pouco ninguém deve se assustar. E mesmo que fosse maior o drama vivido, jamais a pastoral poderia fugir. O bom pastor dá a sua vida por suas ovelhas. Não lhe é permitido seguir o exemplo do mercenário que foge quando vê o lobo vir. Também seria uma negação do Evangelho: "Estive preso e não me visitastes...". Folha - Os defensores da pena de morte analisam que o episódio do presídio reforça a tese deles. Lorscheider - Considero argumentação furada. Não vejo a mínima razão para aplicar a pena de morte. Que se puna, isto sim, mas sem usar violência nem humilhar quem cometeu delito. O mal é a impunidade. No Brasil não necessitamos a pena de morte, mas sim que se apliquem penas previstas no Código Penal e sejam aplicadas a todos, não só aos pobres. Folha - O sr. acha que a revisão constitucional deve continuar? Lorscheider - Como está, não deve continuar. Nem deve continuar com o Congresso que aí está. Necessitamos de pessoas mais sérias e mais amantes da pátria e do povo brasileiro. Se nem fizeram as leis complementares previstas pela Constituição, com que direito querem agora fazer uma revisão que está sendo a formulação de uma nova Constituição? Eles não possuem poder constituinte. Digo com sinceridade que vejo a revisão como algo furado. Folha - Como o sr. vê a credibilidade da Câmara depois da CPI do Orçamento? Lorscheider - Apesar da CPI, ficou-se apenas nisso. Nenhum culpado sofreu algo. Não houve quem até agora tivesse que restituir o que roubou da nação. E além do mais, a CPI parou no meio do caminho. Onde fica a CPI das empreiteiras e de outras instituições que estão comprometidos com as pessoas do Congresso que foram desonestas? Folha - Como o sr. vê a proposta de se estabelecer direitos, entre eles o de herança, para homossexuais? Lorscheider - O homossexualismo normalmente é uma doença. Não é algo natural. Deve se ter muita compreensão para com eles como para qualquer pessoa doente, mas não se pode conceder a eles direitos que contradizem toda a estrutura do ser humano. Texto Anterior: Monopólios geram debate sobre ética Próximo Texto: Cientista quer pendurar telescópio em balão Índice |
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