São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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O jogador Raí e o seu pé esquerdo

Craque amarga a reserva na França
MARCELO FROMER
NANDO REIS

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que acontece com Raí faz-nos refletir com um pouco mais de serenidade sobre a difícil profissão que é a de ser jogador. Nós, fãs incontestes desse jogador, ficamos e ainda estamos surpresos e aborrecidos com a queda de produção de Raí após sua venda para o PSG.
Por todos os títulos que ele já havia conquistado pelo São Paulo e principalmente pelo futebol que ele havia apresentado durante essas campanhas, Raí havia atingido o "status" de craque da unanimidade e nos parecia remotíssima a possibilidade de uma reversão deste quadro. Hoje, ele amarga a reserva de um time de um país que nem ao menos se classificou para a Copa.
Raí há tempos havia deixado de ser uma promessa para se tornar uma realidade indubitável. Provou isso dentro e fora das quatro linhas com sua personalidade forte e seu jogo consistente. Um jogador completo, um craque com a humildade dos principiantes e a petulância dos centroavantes. Gols em profusão, cabeçadas precisas, seus característicos carrinhos, solidariedade com a defesa, generosidade com o ataque.
Bem, mas e daí, se ele realmente está mal, por que chamá-lo, todos devem estar se perguntando. Se tivéssemos dois técnicos conscientes, depois de realmente verificado que Raí não está em boas condições físicas e técnicas de servir à seleção, ele deveria ser excluído. Mas pedir coerência à esta dupla, seria a mesma coisa que emprestar um binóculo a um cego. Queremos crer que nossos técnicos tenham discernimento para não escalarem Raí caso ele não esteja bem, para que os amistosos não venham a servir como arapuca para que o jogador caia definitivamente nas garras do descrédito. É bom ficarmos atentos, porque são sempre obscuras as maneiras que esses dois encontram para solucionar seus problemas.
Mas o que verdadeiramente estaria acontecendo com Raí? Nós não sabemos ao certo, e aí é o ponto onde nós queríamos chegar. A superexposição à que ficam sujeitos alguns jogadores muitas vezes pode ser extremamente prejudicial. A pressão e a cobrança podem definitivamente piorar a situação. O que é preciso deixar claro é que atrás de uma camisa, por dentro de uma chuteira, correndo atrás de uma bola há uma pessoa feita de carne e osso, tal como nós. Com as dificuldades e problemas comuns a todos nós. Não são só os meniscos, o perônio e as contraturas musculares que podem importunar a vida de um jogador. Os nossos heróis não estão imunes a trovoadas sentimentais, a desarranjos psíquicos, a pequenas depressões.
E nós aqui no Brasil temos o péssimo hábito de querer vê-los sempre exatos e perfeitos tal qual sonhamos e projetamos. Mas se nós não somos assim, por que os craques deveriam ser?
Se o Raí realmente não tiver condições de defender o Brasil nessa Copa, será uma grande pena, uma perda irreparável. O grande problema de um jogador é que ele nunca pode acordar com o pé esquerdo. A não ser que ele seja o Rivelino.

Com o Teimoso faltam apenas 87 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Marcelo Fromer e Nando Reis são do Titãs

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