São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Gugelmin recupera o prazer de correr

Piloto volta a uma equipe de ponta

FLAVIO GOMES
DA REPORTAGEM LOCAL

O paranaense Maurício Gugelmin chegou à F-1 em 88 com uma fama equivalente à de Ayrton Senna quatro anos antes. Mas caiu do cavalo. Sua chegada coincidiu com uma mudança de rumos da categoria que ceifou dezenas de carreiras potencialmente brilhantes.
Depois de seis anos, Maurício recomeçou sua vida na F-Indy. Reencontrou o prazer de, como diz, "dar pau de carro". Na Chip Ganassi, uma equipe de ponta, se acha em condições de, finalmente, voltar a vencer corridas. Em Surfer's Paradise, ficou em 6º. Antes de viajar à Austrália, falou por telefone à Folha de sua nova casa, em Miami.
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Folha - Como foi seu acerto com a Chip Ganassi?
Maurício Gugelmin - Tinha duas opções: ou fazer um terceiro carro com a ajuda da Lola e a Newman-Haas, ou um segundo com o Chip, que foi o que escolhi. O motivo foi a Reynard, uma fábrica em que acredito, já ganhei campeonato em 84 com eles na F-2.000.
Folha - Como foi seu primeiro teste, em Firebird?
Gugelmin - Foi ótimo. Eu esperava que o carro ia ser bom. Eu saí satisfeito porque além de ter virado bem não quebrou nada, o motor não falhou uma vez e não deu nenhum pepino. Fazia anos na minha vida que isso não acontecia. Não sei se acredito, está bom demais para ser verdade.
Folha - Você vai ser companheiro de Michael Andretti, que é um ponto de referência na Indy. Isso é bom?
Gugelmin - Ter andado mais rápido que ele em Firebird foi ótimo, porque deu para notar que os carros são iguais.
Folha - Até que ponto a experiência traumática da F-1 fez mal para o Michael?
Gugelmin - Eu notei que ele está tenso, porque vai ter que limpar o nome dele este ano.
Folha - Você acha que pode ganhar corridas, ao contrário do que acontecia na F-1?
Gugelmin - Pela primeira vez desde 85 eu me sinto nessa posição. Primeiro pelo desempenho nos testes. Segundo, a Indy dá essa possibilidade.
Folha - E a F-1?
Gugelmin - Se eu tiver uma possibilidade de voltar para a F-1, eu gostaria. Mas eu estou muito mais satisfeito neste momento do que nos últimos anos. É lógico que F-1 tem mais espaço. Só que, para um piloto, o que é importante? É você ter condições, ter as mesmas armas para lutar e vencer. O que a gente gosta é dar pau de carro e ganhar dos outros, passar os outros para trás.
Folha - Quando é que você viu que a F-1 era passado e que a Indy seria uma opção?
Gugelmin - Em 92, eu quase não fui para a Austrália e para o Japão. Estava ridículo aquilo. Eu estava cansado com o esquema de Yamaha e as histórias do seu Eddie Jordan, que é um cara que não inspira nenhuma confiança. Tinha a possibilidade de ir para a Lotus, de ficar na Jordan, só que uma hora eu sentei, vi o que tinha na mesa e cheguei à conclusão de que não valeria a pena. Aí vim para os EUA e quase fiz um contrato com a Galles, para seis provas. Aí eu aguardei até o final do ano para as últimas três provas.
Folha - A F-1 te magoou?
Gugelmin - Não, eu tive bons momentos na Leyton House, na minha primeira corrida do segundo ano eu fui para o pódio, até ali estava tudo jóia. De repente o japonês começou a ficar apertado de dinheiro, a gente perdeu o Adrian Newey... E tua motivação aguenta até um certo ponto. Cansa. A gota d'água foi em 92 na Jordan. Eu acreditava numa equipe que estava crescendo e deu tudo errado. O Eddie faz F-1 para o bolso dele. Faz um contrato com o Rubinho que a multa é de US$ 5 milhões! Pelo amor de Deus, isso não existe. Ele estava querendo era promover o Rubinho para vender o Rubinho. Isso não é esporte. É trambicagem.

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