São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Viagem de bike permite contato com a natureza

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A pergunta que mais ouvimos durante a nossa viagem foi: por que de bicicleta? A resposta é simples: por que não?
Sem dúvida alguma a bicicleta, mais do que qualquer meio de transporte terrestre, permite um contato muito mais estreito com o ambiente por onde se passa. Quando se está em um veículo motorizado pode-se fazer um planejamento preciso de cada ponto onde se pretende parar. De bicicleta é diferente.
Quando fazemos o planejamento contamos apenas com mapas em duas dimensões. Na maioria das vezes não podemos, portanto, determinar trechos de subida e descida, além de outras surpresas ocasionais.
Isso aconteceu quando saímos de San Martin de los Andes. Tínhamos que pedalar 80 km em seis horas, uma tarefa normalmente fácil se não tivéssemos que gastar quatro horas para subir os 25 km do serro Chapelco. Porém a estrada não é feita apenas de subidas e, mesmo tendo que pedalar à noite, acabamos conseguindo chegar ao nosso destino, sem precisar improvisar uma parada de emergência.
Em muitas ocasiões no entanto isso não é possível, o que nos obriga a acampar em lugares muitas vezes insólitos, como barcos abandonados, bosques etc. Essas situações nem sempre são prazeirosas, mas é justamente isto que fascina em uma viagem de bike –o inesperado.
Você tem que parar para descansar e quando percebe tem um guanaco (espécie de ruminante parecido com lhama) pastando tranquilamente a poucos metros de você. Depois chega outro, e mais um, que o observa com a mesma curiosidade que você. Da mesma maneira que vieram, eles partem. Assim o tempo passa e você nem percebe.
O tempo é certamente o maior obstáculo para uma viagem de bicicleta. Se você se preocupa com ele, não vá. Há um dito popular aqui na região: "Na Patagônia, quem tem pressa está perdendo tempo". É verdade.

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