São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Pesquisa de época inspira figurinos

EVA JOORY

EVA JOORY; ERIKA PALOMINO
DA REPORTAGEM LOCAL

ERIKA PALOMINO
Com trabalho conjunto de direção de arte e fotografia, os filmes indicados para o Oscar de melhor figurino se enquadram todos na categoria "filme lindo", com exceção de "A Lista de Schindler". Todos são "de época", todos têm relevantes trabalhos de pesquisa de roupas e hábitos –"Os Vestígios do Dia" e seus trajes domésticos talvez seja o mais fraquinho. Assim, qualquer um dos outros quatro que ganhe a estatueta vai ser vitória justa.
"O Piano", com trajes criados por Janet Patterson, já inspirou até editoriais de moda, como na revista "Vogue" inglesa deste mês. Os chapéus altos e os austeros vestidos longos, em tons escuros, servem de moldura para Holly Hunter desfiar sua lenga-lenga emocional. Um bom momento, em termos de figurino, quando Hunter tira sua saia e deixa à mostra as barbatanas daquela moda.
"Orlando" é um delicioso exercício de estilo. Foi da figurinista Sandy Powell o desafio, juntamente com Sally Potter, de representar quatro séculos da vida de lorde Orlando, em trajes masculinos e femininos –só para lembrar, o personagem simplesmente acorda mulher, numa bela manhã. De dândi para dama, da guerra aos andróginos dias atuais. Outro trabalho que chegou às revistas de moda, já que a "Vogue" América fotografou a atriz Tilda Swinton no apartamento do estilista Karl Lagerfeld, em Paris.
Martin Scorsese também deu trabalho para a figurinista Gabriella Pescucci em seu "A Época da Inocência". Coincidentemente, nos tempos atuais, o look inocente entrou na moda; no filme, o que se vê é a sofisticação da aristocracia nova-iorquina do século 18. Sem falar que ter atrizes como Michelle Pfeiffer e Winona Rider deve empolgar os membros da Academia.
Jenny Braven e John Bright assinam os trajes do mordomo Anthony Hopkins e da empregada Emma Thompson em "Vestígios do Dia". Nada que chegue a tirar o fôlego, apenas uma indicação formal ao prêmio.
Mas se a Academia quiser mesmo ser moderna, vai ter que premiar a polonesa Anna Biedrzycka-Sheppard por "A Lista de Schindler". Não apenas por ter arranjado roupa para 18 mil figurantes, mas por ter realmente ajudado Spielberg a traduzir em imagens o agoniante clima daquele momento. Moda no seu caráter mais social.
Anna Sheppard teve de colocar anúncios nos jornais da Polônia pedindo que as pessoas vendessem roupas, jóias, sapatos e acessórios da época. O resultado é impecável e emocionante. Tão sombrio que inspiraria qualquer desconstrutivista de última hora.

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